NĂșmeros divulgados pelo Ministério da SaĂșde indicam que os tratamentos cirĂșrgicos para a incontinĂȘncia urinĂĄria caĂram 60% em 2020, em relação ao ano anterior. A constatação é de que a pandemia de covid-19 agravou o tratamento de vĂĄrias doenças, entre elas a incontinĂȘncia urinĂĄria, que costuma afetar 45% das mulheres e 15% dos homens acima de 40 anos, de acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). O Dia Mundial de Conscientização sobre a IncontinĂȘncia UrinĂĄria é comemorado no dia 14 de março, o próximo domingo.
O secretĂĄrio-geral da SBU, Alfredo Canalini, explicou que a incontinĂȘncia urinĂĄria, ou perda involuntĂĄria de urina, é um sintoma que tem impacto negativo enorme na qualidade de vida. Considerando que as cirurgias de incontinĂȘncia urinĂĄria caĂram 60% no ano passado, percebe-se que "mesmo com toda essa deterioração que provoca, os pacientes ficaram com medo de procurar tratamento e internação, em função da pandemia. Isso foi, realmente, um impacto muito negativo no tratamento dessa doença", disse Canalini.
O urologista afirmou que a qualidade de vida desses pacientes piorou ainda mais, devido à covid-19, com algumas sequelas, principalmente para as mulheres, que usam absorventes especiais e ficam com a pele macerada em função do contato com a urina, especialmente as mais idosas.
Segundo o secretĂĄrio-geral da SBU, a incontinĂȘncia urinĂĄria pode ser provocada por doenças diferentes. Por isso recomendou a necessidade de se procurar saber o que estĂĄ acontecendo para a pessoa perder urina e o que tem de ser feito para resolver o problema. Lembrou que além da cirurgia, existe tratamento medicamentoso que o médico pode lançar mão em algumas situações para melhorar o quadro. "Mas nem isso houve em 2020. Houve uma imobilização das pessoas por causa do medo de se contaminarem pelo novo coronavĂrus".
Visando a alertar a população sobre o diagnóstico e a importância do tratamento da incontinĂȘncia urinĂĄria, a SBU realiza este ano uma campanha virtual de conscientização, que integra a campanha internacional sobre o mesmo tema. Durante o mĂȘs de março, a SBU vai esclarecer a população sobre a incontinĂȘncia urinĂĄria, por meio das redes sociais da entidade (@portaldaurologia), e na RĂĄdio SBU, podcasts disponĂvel nos principais canais de ĂĄudio: Spotify, Deezer, Pocket Cast, Apple Podcasts e Google Podcasts. Todas as segundas-feiras, às 19h, médicos filiados à entidade vão tirar dĂșvidas da população sobre o tema em transmissões online ao vivo no Instagram, além de indicar ações preventivas e como buscar ajuda para amenizar ou solucionar o problema.
Alfredo Canalini assegurou que com as proteções necessĂĄrias, que envolvem uso de mĂĄscara facial, uso de ĂĄlcool em gel após tocar em superfĂcies que são compartilhadas, como telas de computadores e terminais eletrônicos, distanciamento social, evitar aglomerações, lavar as mãos com frequĂȘncia, os atendimentos podem ser realizados. "É lógico que é preciso ter cautela. Mas, respeitando as recomendações sanitĂĄrias, vocĂȘ pode atender com segurança os pacientes". Canalini admitiu o temor de que o agravamento da pandemia na atualidade possa repercutir de modo negativo sobre os pacientes. "As pessoas estão com medo de sair às ruas".
Reconheceu que "o medo é bom, por um lado, porque ajuda vocĂȘ a se proteger", mas advertiu que as pessoas não podem nem devem entrar em paranóia. "As pessoas tĂȘm que ter consciĂȘncia de que existe o risco, mas pode ser diminuĂdo muito. É só seguir as orientações bĂĄsicas das autoridades sanitĂĄrias. Isso protege. Isso pode salvar vidas e evitar que as pessoas possam se infectar. Diminui muito a questão". Ele lamentou que haja pessoas que parecem estar vivendo em outra realidade, especialmente os jovens, que parecem não pensar na morte e, com isso, se arriscam e acabam ajudando na disseminação do vĂrus, mesmo que não apresentem sintomas.
O diretor do Departamento de Disfunções Miccionais da SBU, Cristiano Gomes, observou que alguns estudos demonstram que pessoas com incontinĂȘncia costumam ter, além de pior qualidade de vida, maiores nĂveis de ansiedade e depressão, redução na produtividade no trabalho e podem se afastar do convĂvio social e da intimidade com o parceiro ou parceira por causa das perdas de urina. "A incontinĂȘncia também pode aumentar o risco de quedas entre os idosos. Finalmente, mas não menos importante, em alguns casos a incontinĂȘncia pode ser causada por um problema de saĂșde mais grave, como infecções, pedra na bexiga, doenças neurológicas e até tumores da bexiga ou próstata".
De acordo com a SBU, o tipo mais frequente é a incontinĂȘncia urinĂĄria por esforço, isto é, quando o paciente perde urina ao tossir, carregar peso, espirrar ou até mesmo sentar-se e levantar-se. Isso acontece sobretudo em mulheres que tiveram muitos filhos ou é decorrente de cirurgia de próstata. A incontinĂȘncia urinĂĄria de urgĂȘncia ou bexiga hiperativa é quando existe uma vontade repentina e incontrolĂĄvel de urinar durante o dia e no perĂodo da noite, podendo comprometer o sono. Embora muitos considerem a perda involuntĂĄria de urina como "algo natural" da idade, essa condição pode ser tratada, para não trazer impactos profundos na vida do paciente.
Em fevereiro deste ano, a SBU fez um levantamento online sobre a incontinĂȘncia urinĂĄria. "De acordo com 44% dos participantes, a pandemia de covid-19 atrapalhou ou retardou o tratamento da incontinĂȘncia. Dos entrevistados com incontinĂȘncia, 77% disseram que ainda não retomaram seu tratamento", disse o coordenador do trabalho, Ricardo Vita. Alguns fatores de risco para a doença são a idade, ter muitos filhos, diabetes, obesidade e doenças neurológicas.
Os pacientes que enfrentam esse problema contam com apoio multidisciplinar para o tratamento, segundo a SBU. A mudança de alguns hĂĄbitos de vida pode também fazer diferença, como evitar excesso de lĂquidos, urinar periodicamente, tratar constipação e outros problemas clĂnicos como diabetes e obesidade. Além de medicamentos, que são utilizados sobretudo nos casos de bexiga hiperativa, a incontinĂȘncia de esforço pode ser tratada com procedimentos cirĂșrgicos de baixo risco e rĂĄpida recuperação, como a cirurgia de sling, quando se coloca uma faixa sob a uretra.
Outros tratamentos incluem a aplicação de toxina botulĂnica, o implante de marcapasso da bexiga e o de esfĂncter artificial. Alfredo Canalini lembrou que todos os pacientes podem ser tratados. "Importante que, além da indicação correta, haja motivação para seguir os passos do tratamento e também uma cognição favorĂĄvel, ou seja um estado mental que possibilite à pessoa ter percepção sobre o que acontece consigo e ao redor. Dessa forma, os Ăndices de cura e de controle do problema hoje em dia são muito elevados", acrescentou.
Fonte: AgĂȘncia Brasil