PREFEITURA SANTANA

Ganhadora do Nobel da Paz pede ações contra evasão escolar no Brasil

Malala Yousafzai foi convidada a participar da audiĂȘncia, mas não pôde comparecer

Por Redação em 21/02/2022 às 23:02:55

Em carta endereçada ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), a ativista paquistanesa Malala Yousafzai, ganhadora do PrĂȘmio Nobel da Paz em 2014, pediu uma busca ativa de milhões de estudantes brasileiros, sobretudo meninas, que deixaram de frequentar a escola, devido às consequĂȘncias sociais e econômicas da pandemia de covid-19. A carta foi lida durante audiĂȘncia pĂșblica nesta segunda-feira (21) no Senado.

Malala Yousafzai foi convidada a participar da audiĂȘncia, mas não pôde comparecer.

A carta foi lida pela coordenadora-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação e membro da Rede de Ativistas pela Educação do Malala Fund no Brasil, Andressa Pellanda. Na carta, Malala elogia os avanços recentes na polĂ­tica educacional do Brasil após mudanças no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação BĂĄsica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).

No entanto, Malala frisa que a pandemia de covid-19 freou esse processo positivo e afastou meninos e meninas da escola, principalmente as meninas. "A pandemia de covid-19 reverteu muitas conquistas, com 10% dos alunos de 10 a 15 anos relatando que não retornarão às salas de aulas quando as escolas reabrirem. Pesquisas do Fundo Malala mostram que o aumento das taxas de pobreza, responsabilidades domésticas, trabalho infantil e gravidez na adolescĂȘncia afetaram desproporcionalmente a capacidade das meninas de aprender durante a pandemia, impedindo o retorno delas à escola", diz Malala na carta ao Senado.

"Mas, Vossas ExcelĂȘncias sabem, a educação das meninas é a solução para um dos problemas mais urgentes do nosso mundo. Se queremos sociedades mais saudĂĄveis, prósperas e pacĂ­ficas, devemos proporcionar às meninas 12 anos de educação gratuita, segura e de qualidade", afirma Malala, que pede às autoridades brasileiras aumento do orçamento para a educação e o repasse de recursos para as escolas pĂșblicas como ferramenta para garantir o aprendizado das meninas.

Malala também defende a implementação de mecanismos como o Fundeb e a regulamentação do Sistema Nacional de Educação para a distribuição equitativa dos recursos. A ativista paquistanesa lembra ainda a importância de escolas em comunidades negras, indĂ­genas e quilombolas receberem todos os recursos necessĂĄrios. Além disso, Malala enfatiza a necessidade de uma busca ativa dos jovens aos quais a escola é mais inacessĂ­vel e de estratégias para reinseri-los nas salas de aula.

Atualmente com 24 anos, Malala sobreviveu a um tiro na cabeça disparado por um atirador paquistanĂȘs do Talibã em 2012, depois de se tornar visada por sua campanha favorĂĄvel à educação para as mulheres, que contrariava os interesses desse grupo. Ela se tornou conhecida como uma menina de 11 anos que escrevia um blog para a BBC no qual relatava como era viver sob o domĂ­nio do Talibã paquistanĂȘs. Com o aumento da popularidade dos seus textos, veio o atentado. Ela recebeu PrĂȘmio Nobel da Paz em 2014 quando tinha apenas 17 anos.

AudiĂȘncia

Na audiĂȘncia de hoje, foram discutidos novos caminhos para a educação após os prejuĂ­zos causados pela pandemia de covid-19. De acordo com a senadora Leila Barros (PSB-DF), que presidiu a reunião, o isolamento no perĂ­odo da pandemia gerou déficit educativo para muitos estudantes.

Leila citou um relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), divulgado na Ășltima semana, para embasar a sessão. Para a senadora, o dado mais preocupante trazido pelo relatório é a perspectiva de que 10% dos que abandonaram as aulas por causa da pandemia jamais voltem às escolas.

Outros nĂșmeros incluĂ­dos no relatório mostram a defasagem educacional, disse Leila. "Os cenĂĄrios apresentados apontam para um cenĂĄrio desafiador. Segundo o documento, em média, os alunos aprenderam apenas 28% do que teriam aprendido nas aulas presenciais, e o risco de desistĂȘncia aumentou mais de trĂȘs vezes. Em matemĂĄtica, o retrocesso nos levou aos nĂ­veis educacionais de 14 anos atrĂĄs e em portuguĂȘs aos nĂ­veis de dez anos atrĂĄs."

Presentes à audiĂȘncia, especialistas como Lucas Fernandes Hoogerbrugge, do Movimento Todos pela Educação, fizeram coro à preocupação da senadora e apontaram o "aumento gigantesco" da evasão escolar. "Pesquisas que usam dados da Pnad [Pesquisa Nacional por Amostra de DomicĂ­lios] mostram 171% de aumento dos jovens fora da escola, na comparação com 2019. Temos uma situação muito prejudicial para a alfabetização. E vamos para uma situação em que muitas crianças e jovens perderam o vĂ­nculo com a escola", afirmou Hoogerbrugge.

Representantes do Ministério da Educação (MEC), que também participaram da audiĂȘncia pĂșblica, lamentaram os efeitos da pandemia que, segundo eles, freou o cumprimento de metas de frequĂȘncia escolar. "Em termos de taxa de frequĂȘncia escolar, estĂĄvamos caminhando para as metas estabelecidas. AĂ­, naturalmente, [vieram os] dados de 2021, que mostram que de fato tivemos uma queda", afirmou o secretĂĄrio de Educação BĂĄsica do MEC, Mauro Rabelo.

Rabelo afirmou que o MEC pretende fortalecer a busca ativa para levar o jovem de volta à escola e combater a evasão. "A estratégia é trazer o estudante de volta à escola e então fortalecer a rede de busca ativa. A inclusão do Disque 100 Brasil na Escola, acompanhar e manter o engajamento desse estudante. Então, estamos criando aqui um sistema de alerta preventivo", acrescentou.

O secretĂĄrio de Educação BĂĄsica citou também a criação do Programa Brasil na Escola, em 2021, cujo objetivo é estimular estratégias que garantam a permanĂȘncia, o aprendizado e o desenvolvimento dos estudantes matriculados nos anos finais do ensino fundamental. "Nesse programa, estamos com uma parceria com o Ministério da Mulher, da FamĂ­lia e dos Direitos Humanos, uma campanha nacional que vamos lançar em 7 de março, que é o Educação é Direito de Todos, via Disque 100."

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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