Ganhadora do Nobel da Paz pede ações contra evasão escolar no Brasil
Malala Yousafzai foi convidada a participar da audiĂȘncia, mas não pôde comparecer
Em carta endereçada ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), a ativista paquistanesa Malala Yousafzai, ganhadora do PrĂȘmio Nobel da Paz em 2014, pediu uma busca ativa de milhões de estudantes brasileiros, sobretudo meninas, que deixaram de frequentar a escola, devido às consequĂȘncias sociais e econômicas da pandemia de covid-19. A carta foi lida durante audiĂȘncia pĂșblica nesta segunda-feira (21) no Senado.
Malala Yousafzai foi convidada a participar da audiĂȘncia, mas não pôde comparecer.A carta foi lida pela coordenadora-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação e membro da Rede de Ativistas pela Educação do Malala Fund no Brasil, Andressa Pellanda. Na carta, Malala elogia os avanços recentes na polĂtica educacional do Brasil após mudanças no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação BĂĄsica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).No entanto, Malala frisa que a pandemia de covid-19 freou esse processo positivo e afastou meninos e meninas da escola, principalmente as meninas. "A pandemia de covid-19 reverteu muitas conquistas, com 10% dos alunos de 10 a 15 anos relatando que não retornarão às salas de aulas quando as escolas reabrirem. Pesquisas do Fundo Malala mostram que o aumento das taxas de pobreza, responsabilidades domésticas, trabalho infantil e gravidez na adolescĂȘncia afetaram desproporcionalmente a capacidade das meninas de aprender durante a pandemia, impedindo o retorno delas à escola", diz Malala na carta ao Senado."Mas, Vossas ExcelĂȘncias sabem, a educação das meninas é a solução para um dos problemas mais urgentes do nosso mundo. Se queremos sociedades mais saudĂĄveis, prósperas e pacĂficas, devemos proporcionar às meninas 12 anos de educação gratuita, segura e de qualidade", afirma Malala, que pede às autoridades brasileiras aumento do orçamento para a educação e o repasse de recursos para as escolas pĂșblicas como ferramenta para garantir o aprendizado das meninas.Malala também defende a implementação de mecanismos como o Fundeb e a regulamentação do Sistema Nacional de Educação para a distribuição equitativa dos recursos. A ativista paquistanesa lembra ainda a importância de escolas em comunidades negras, indĂgenas e quilombolas receberem todos os recursos necessĂĄrios. Além disso, Malala enfatiza a necessidade de uma busca ativa dos jovens aos quais a escola é mais inacessĂvel e de estratégias para reinseri-los nas salas de aula.Atualmente com 24 anos, Malala sobreviveu a um tiro na cabeça disparado por um atirador paquistanĂȘs do Talibã em 2012, depois de se tornar visada por sua campanha favorĂĄvel à educação para as mulheres, que contrariava os interesses desse grupo. Ela se tornou conhecida como uma menina de 11 anos que escrevia um blog para a BBC no qual relatava como era viver sob o domĂnio do Talibã paquistanĂȘs. Com o aumento da popularidade dos seus textos, veio o atentado. Ela recebeu PrĂȘmio Nobel da Paz em 2014 quando tinha apenas 17 anos.AudiĂȘncia
Na audiĂȘncia de hoje, foram discutidos novos caminhos para a educação após os prejuĂzos causados pela pandemia de covid-19. De acordo com a senadora Leila Barros (PSB-DF), que presidiu a reunião, o isolamento no perĂodo da pandemia gerou déficit educativo para muitos estudantes.
Leila citou um relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), divulgado na Ășltima semana, para embasar a sessão. Para a senadora, o dado mais preocupante trazido pelo relatório é a perspectiva de que 10% dos que abandonaram as aulas por causa da pandemia jamais voltem às escolas.Outros nĂșmeros incluĂdos no relatório mostram a defasagem educacional, disse Leila. "Os cenĂĄrios apresentados apontam para um cenĂĄrio desafiador. Segundo o documento, em média, os alunos aprenderam apenas 28% do que teriam aprendido nas aulas presenciais, e o risco de desistĂȘncia aumentou mais de trĂȘs vezes. Em matemĂĄtica, o retrocesso nos levou aos nĂveis educacionais de 14 anos atrĂĄs e em portuguĂȘs aos nĂveis de dez anos atrĂĄs."Presentes à audiĂȘncia, especialistas como Lucas Fernandes Hoogerbrugge, do Movimento Todos pela Educação, fizeram coro à preocupação da senadora e apontaram o "aumento gigantesco" da evasão escolar. "Pesquisas que usam dados da Pnad [Pesquisa Nacional por Amostra de DomicĂlios] mostram 171% de aumento dos jovens fora da escola, na comparação com 2019. Temos uma situação muito prejudicial para a alfabetização. E vamos para uma situação em que muitas crianças e jovens perderam o vĂnculo com a escola", afirmou Hoogerbrugge.Representantes do Ministério da Educação (MEC), que também participaram da audiĂȘncia pĂșblica, lamentaram os efeitos da pandemia que, segundo eles, freou o cumprimento de metas de frequĂȘncia escolar. "Em termos de taxa de frequĂȘncia escolar, estĂĄvamos caminhando para as metas estabelecidas. AĂ, naturalmente, [vieram os] dados de 2021, que mostram que de fato tivemos uma queda", afirmou o secretĂĄrio de Educação BĂĄsica do MEC, Mauro Rabelo.Rabelo afirmou que o MEC pretende fortalecer a busca ativa para levar o jovem de volta à escola e combater a evasão. "A estratégia é trazer o estudante de volta à escola e então fortalecer a rede de busca ativa. A inclusão do Disque 100 Brasil na Escola, acompanhar e manter o engajamento desse estudante. Então, estamos criando aqui um sistema de alerta preventivo", acrescentou.
O secretĂĄrio de Educação BĂĄsica citou também a criação do Programa Brasil na Escola, em 2021, cujo objetivo é estimular estratégias que garantam a permanĂȘncia, o aprendizado e o desenvolvimento dos estudantes matriculados nos anos finais do ensino fundamental. "Nesse programa, estamos com uma parceria com o Ministério da Mulher, da FamĂlia e dos Direitos Humanos, uma campanha nacional que vamos lançar em 7 de março, que é o Educação é Direito de Todos, via Disque 100."Fonte: AgĂȘncia Brasil