PREFEITURA SANTANA

Relatório toxicológico da Anvisa recomenda proibição do carbendazim

Pedido de vista coletivo adiou votação e encaminhamento do documento

Por Redação em 23/02/2022 às 21:38:56

Um pedido de vista conjunto interrompeu, hoje (23), a votação, pela diretoria-colegiada da AgĂȘncia Nacional de Vigilância SanitĂĄria (Anvisa), de um relatório em que técnicos da própria agĂȘncia recomendam a proibição da venda e do uso de agrotóxicos à base de carbendazim, um dos fungicidas mais usados por agricultores brasileiros no combate a fungos que atacam plantações de feijão, arroz, soja e de outros importantes produtos agrĂ­colas.

O documento que propõe o banimento do carbendazim foi apresentado hoje (23) pela diretora Cristiane Rose Jourdan durante a 3ÂȘ Reunião OrdinĂĄria PĂșblica da diretoria da agĂȘncia. Cristiane é a relatora do processo de anĂĄlise de impacto regulatório iniciado em dezembro de 2019, para reavaliar aspectos de segurança do fungicida. O documento foi formulado por técnicos da gerĂȘncia-geral de toxicologia.

Segundo o relatório, o carbendazim "possui aspectos toxicológicos proibitivos de registro, não sendo possĂ­vel estabelecer um limiar de dose segura para a exposição" humana. Entre os aspectos listados pelos técnicos da Anvisa e enfatizados por Cristiane estĂĄ o potencial do agrotóxico de provocar câncer, prejudicar a capacidade reprodutiva humana e afetar o desenvolvimento.

"Importante pontuar que as anĂĄlises realizadas [pela gerĂȘncia-geral] basearam-se em evidĂȘncias técnicas e cientĂ­ficas, incluindo estudos e relatórios das empresas [fabricantes dos produtos registrados no Brasil] e das principais agĂȘncias reguladoras internacionais, além da literatura cientĂ­fica e outras referĂȘncias necessĂĄrias", pontuou Cristiane.

Reavaliação

O carbendazin encabeça a lista de sete ingredientes ativos de agrotóxicos que a Anvisa pretende submeter à reavaliação toxicológica.

Diretora Cristiane Rose Jourdan Gomes Reunião extraordinĂĄria da Diretoria Colegiada da Anvisa de 17/1/2021
Diretora Cristiane Rose Jourdan Gomes Reunião extraordinĂĄria da Diretoria Colegiada da Anvisa de 17/1/2021 - Divulgação/ Anvisa

Segundo Cristiane, isto se deve ao fato de que, além de ter sido "enquadrado em critérios potencialmente proibitivos" para obtenção do registro de agrotóxicos, o produto "apresenta comercialização expressiva no paĂ­s, sendo o ingrediente ativo mais detectado em alimentos, além de representar risco dietético à população". De acordo com a diretora, 24 empresas detĂȘm, hoje, no Brasil, 67 diferentes produtos à base de carbendazim com registro ativo.

"O carbendazim estĂĄ entre os 20 agrotóxicos mais comercializados no paĂ­s e tem o uso agrĂ­cola como agrotóxico aprovado para a modalidade foliar nas culturas de algodão, cevada, citros, feijão, maçã, milho, soja e trigo. E também para a aplicação em sementes das culturas de algodão, arroz, feijão, milho e soja", explicou a diretora durante a leitura do relatório.

No documento, os técnicos da agĂȘncia sustentam que, "caso a diretoria da Anvisa opte por não atuar, a população estarĂĄ em risco em razão da exposição a uma substância que, por suas propriedades, deveria ser proibida conforme a legislação vigente".

Durante a reunião pĂșblica de hoje, a diretoria apenas votaria o teor do relatório para, na sequĂȘncia, dar prosseguimento ao processo de reavaliação toxicológica, que pode ou não resultar na proibição da produção, importação, exportação, venda e uso do agrotóxico. Uma das etapas do processo, caso ele avance, serĂĄ a realização de uma audiĂȘncia pĂșblica para discutir com os setores interessados os impactos de uma eventual proibição.

"As empresas detentoras de registros de agrotóxicos poderão ter impactos econômicos imediatos na venda de produtos, uma vez que o ingrediente ativo estĂĄ entre os 20 agrotóxicos mais comercializados no Brasil. Por outro lado, o uso do carbendazim como fungicida serĂĄ substituĂ­do por um ou mais ingredientes ativos e, no curto ou médio prazo, as empresas poderão, eventualmente, substituir as perdas imediatas pela venda de produtos substitutos", ponderou Cristiane, reconhecendo que, no primeiro momento, pode haver uma alta dos preços dos principais alimentos.

"Os agricultores e as empresas de tratamento industrial de sementes sofrerão os impactos da diminuição da oferta de produtos fungicidas, tendo que adaptar suas prĂĄticas agrĂ­colas ou industriais a novos produtos, o que pode elevar os custos de produção no curto prazo. Por outro lado, com a aprovação de outros ingredientes ativos, o comportamento do mercado de agrotóxico poderĂĄ se normalizar e voltar a patamares anteriores. JĂĄ os trabalhadores, a depender da quantidade destes [defensivos agrĂ­colas] substitutos, podem vir a ser expostos a uma diversidade maior de ingrediente ativos. Contudo, [é certo que] serão beneficiados pela redução da exposição ocupacional ao carbendazim, um relevante fator de risco à saĂșde humana", acrescentou.

Adiamento

A deliberação da diretoria-colegiada sobre o teor do relatório de AnĂĄlise de Impacto Regulatório em que a GerĂȘncia-Geral de Toxicologia da Anvisa se manifesta pelo banimento do carbendazim e, consequentemente, pela continuidade do processo de reavaliação toxicológica do produto, foi adiada pelos pedidos de vista da diretora-presidente substituta, Meiruze Sousa Freitas, e do diretor Alex Machado Campos. Os dois elogiaram o relatório e defenderam que alguns agrotóxicos consumidos no paĂ­s passem por um processo de reanĂĄlise, mas destacaram a importância de que todas as dĂșvidas sobre o tema sejam esclarecidas.

"Do ponto de vista material, do mérito, o trabalho e o voto que a doutora Cristiane trouxe é irretocĂĄvel. A par disto […], me restam algumas dĂșvidas sobre a forma como lidarmos com o impacto regulatório [da reavaliação toxicológica] após um ano em que a Anvisa, por força da pandemia, deixou de fazer isto. Sobretudo porque, neste tema, não pode restar nenhum tipo de dĂșvida ou sombra, jĂĄ que estamos protegendo a saĂșde das pessoas", disse Campos, assegurando que, "em breve", o assunto serĂĄ levado à audiĂȘncia pĂșblica.

"O relatório é bem impactante e muito robusto sob o ponto de vista dos impactos à saĂșde humana […] Entretanto, neste contexto, também acho que a diretoria-colegiada precisa aprimorar seu conhecimento", acrescentou Meiruze.

Edição: LĂ­lian Beraldo

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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