Um estudo realizado pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para SaĂșde (Cidacs), da Fiocruz Bahia, acompanhou 3.308 bebĂȘs com sĂndrome congĂȘnita da zika até os 3 anos de idade e identificou uma mortalidade 11 vezes maior que a das crianças sem a doença. As principais causas das mortes variam de acordo com a idade, e entre elas estão anomalias congĂȘnitas, doenças infecciosas e parasitĂĄrias e causas relacionadas ao sistema nervoso central.
O estudo foi divulgado hoje (24) pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e publicado na revista cientĂfica The New England Journal of Medicine. É a primeira pesquisa a acompanhar crianças diagnosticadas com a sĂndrome até o terceiro ano de vida e faz parte da Plataforma de Vigilância de Longo Prazo para Zika e suas ConsequĂȘncias, coordenada pelo Cidacs/Fiocruz Bahia.
Para chegar a essa amostra de mais de 3 mil crianças com a sĂndrome congĂȘnita, foram analisados dados de mais de 11 milhões de recém-nascidos cadastrados no Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), entre 2015 e 2018.
A sĂndrome congĂȘnita da zika ocorre por alterações no sistema nervoso central dos bebĂȘs causadas quando o vĂrus infecta as mães durante a gravidez. A forma mais conhecida da doença é a microcefalia, mas hĂĄ também anomalias funcionais, como a dificuldade para engolir, ou sequelas clĂnicas, como a epilepsia.
Entre as mais de 3 mil crianças com a doença acompanhadas, houve 398 óbitos até os 3 anos de idade. Os pesquisadores identificaram que, para bebĂȘs que nascem com menos de 32 semanas ou menos de 1,5 kg, não hĂĄ diferença na mortalidade quando as crianças com a sĂndrome são comparadas com as que não tĂȘm.
JĂĄ para crianças que nascem com 32 a 36 semanas, a sĂndrome causada pelo zika aumenta as chances de morrer até os 3 anos em nove vezes. E para aquelas que nascem após as 37 semanas, esse risco aumenta em 14 vezes.
O estudo mostra ainda que a chance aumentada de morrer se estende por todo o perĂodo de vida analisado. Até os 28 dias de vida, o risco é sete vezes maior do que para as crianças sem a sĂndrome. JĂĄ entre 1 e 3 anos de vida, a possibilidade chega a ser 22 vezes maior.
Uma das autoras do estudo, a pesquisadora associada do Cidacs e professora assistente da London School of Hygiene & Tropical Medicine (LSHTM) Enny Paixão, explicou à AgĂȘncia Fiocruz de NotĂcias que nĂșmeros tão alarmantes requerem ações após o nascimento que ajudem a melhorar a sobrevivĂȘncia dessas crianças. "Precisamos de protocolos pós-natais bem estabelecidos, incluindo intervenção precoce, para ajudar a diminuir sequelas e melhorar a sobrevida delas", defende.
Outra autora do trabalho, a professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e pesquisadora associada ao Cidacs/Fiocruz Bahia Glória Teixeira, destacou a importância de aumentar a disponibilidade de leitos neonatais para evitar mortes por sĂndromes congĂȘnitas neurológicas.
"Nós observamos que as crianças morriam com maior frequĂȘncia em localidades com poucos leitos de UTI neonatal. Essas crianças precisam de centros de reabilitação: elas nascem com menos neurônios e com neurônios danificados, mas tĂȘm neurônios passĂveis de serem estimulados, o que pode melhorar o processo de cognição e motor", disse à AgĂȘncia Fiocruz de NotĂcias.
"É fundamental disponibilizar serviços e profissionais capacitados para o atendimento no nĂvel local. Os gestores e técnicos da Vigilância em SaĂșde dos trĂȘs nĂveis de gestão devem trocar informações e pensar em estratégias para capilarizar as ações", disse a professora.
As pesquisadoras chamam atenção ainda para relevância da prevenção da infecção pelo vĂrus zika, que é uma das arboviroses carregadas pelo mosquito Aedes aegypti. Uma das principais medidas de prevenção contra a proliferação do mosquito é evitar o acĂșmulo de ĂĄgua parada e descoberta, onde o inseto possa depositar seus ovos e se reproduzir.
Fonte: AgĂȘncia Brasil