PREFEITURA SANTANA

Estudo mostra defasagem de salĂĄrios de professores da rede particular

O levantamento foi feito pelo Grupo Rabbit, que presta consultoria em gestão educacional, entre dezembro de 2021 e fevereiro de 2022, de forma amostral, com 332 escolas com perfis diversos

Por Redação em 24/02/2022 às 21:58:09

Levantamento mostra que, em média, professores de escolas particulares recebem salĂĄrios inferiores ao novo piso nacional do magistério em escolas pĂșblicas, que neste ano chegou a R$ 3.845. As menores médias salariais nas particulares estão entre professores da educação infantil, com salĂĄrios de R$ 2.250.

O levantamento foi feito pelo Grupo Rabbit, que presta consultoria em gestão educacional, entre dezembro de 2021 e fevereiro de 2022, de forma amostral, com 332 escolas com perfis diversos.

Para professores do ensino Infantil e do 1Âș ao 5Âș ano do ensino fundamental, os salĂĄrios giram em torno de R$ 2.250 a R$ 2.638, respectivamente, para jornadas integrais, de 40 horas semanais. "Isso desestimula o ingresso de novos profissionais. Ninguém quer ser mais professor, por isso que se tem dificuldade de contratação de [professores de] algumas matérias", diz o presidente executivo do Grupo Rabbit, Christian Coelho. "A carreira não é estimulante", acrescenta.

No ensino médio e nos anos finais do ensino fundamental, do 6Âș ao 9Âș ano, os salĂĄrios são baseados em valores por hora/aula. A média da hora/aula para o ensino fundamental gira em torno de R$ 22 e, para o ensino médio, cerca de R$ 30.

A maior parte das escolas participantes do levantamento, 43%, estĂĄ localizada no estado de São Paulo, seguida por 10% no estado do Rio de Janeiro. As demais instituições estão distribuĂ­das entre estados da região Nordeste (18%), Sul (11%), Sudeste (9%) e Norte e Centro-Oeste, que juntas somam 9% da amostra.

A maioria cobra mensalidades entre R$ 301 e R$ 900, o equivalente a 48% das instituições participantes. Outras 13% das escolas cobram mensalidades de mais de R$ 1,5 mil.

Coelho ressalta que a pandemia fez com que muitas escolas tivessem que negociar as mensalidades com os pais e responsĂĄveis. Para 61% das escolas, os custos aumentaram em relação ao cenĂĄrio pré-pandemia e para 66% a lucratividade diminuiu.

A maioria, 70%, tem alguma dĂ­vida. A média de lucratividade dessas instituições é de 11%. "Para uma prestadora de serviço, é muito baixo. Qualquer deslize, ela quebra. Qualquer demissão de pessoa mais antiga, qualquer investimento necessĂĄrio, tira essa lucratividade. São empresas com risco gigantesco", analisa Coelho.

Segundo Coelho, as perdas de poder aquisitivo dos brasileiros, que vĂȘm desde antes da pandemia e foram ainda mais intensificadas nos Ășltimos dois anos, impactam diretamente as escolas particulares. Muitos alunos acabam migrando para a rede pĂșblica porque os pais não conseguem manter as matrĂ­culas nas instituições privadas. As perdas de receita acabam impactando o salĂĄrio dos professores.

Piso salarial

A valorização dos profissionais do magistério estĂĄ prevista em lei. O Plano Nacional de Educação (PNE), lei 13.005, de 2014, prevĂȘ que o rendimento médio dos professores deve ser equiparado ao dos demais profissionais com escolaridade equivalente. O prazo para que isso fosse feito encerrou-se em 2020.

Até 2019, os professores das redes pĂșblicas com ensino superior completo ganhavam menos que os demais profissionais. Em média, recebiam 78,1% do que ganhavam os demais profissionais de outras ĂĄreas com mesma escolaridade, de acordo com os Ășltimos dados disponibilizados no relatório de monitoramento do PNE do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais AnĂ­sio Teixeira (Inep).

Em 2022, o governo federal estabeleceu o reajuste de 33,23% para professores da rede pĂșblica de educação bĂĄsica, o que eleva de R$ 2.886 para R$ 3.845 o piso salarial nacional da categoria. O piso se aplica a profissionais com formação em magistério em nĂ­vel médio - vinculados a instituições de ensino infantil, fundamental e médio das redes federal, estadual e municipal - que tĂȘm carga horĂĄria de trabalho de 40 horas semanais.

Na rede privada, segundo o coordenador nacional da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee), Gilson Reis, os professores enfrentam situações de baixa remuneração e ausĂȘncia de plano de carreira.

"Na verdade é um mito que foi construĂ­do no Brasil para falar que escola privada paga mais que escola pĂșblica. Lógico que tem escolas privadas nas regiões mais ricas do paĂ­s e nos bairros mais ricos que tĂȘm um salĂĄrio diferenciado, mas a média salarial dos professores da rede privada é abaixo da da rede pĂșblica", diz Reis.

A situação, de acordo com ele, piorou na pandemia. "O que ocorreu foi um ataque avassalador dos direitos trabalhistas da profissão do professor", diz e acrescenta: "Na medida que a escola privada perdeu alunos, ela impôs um sacrifĂ­cio ainda muito maior aos professores. Houve redução de salĂĄrios, houve redução de direitos que eram conquistados nas convenções coletivas. Tivemos uma aceleração extraordinĂĄria da precarização do trabalho, da redução de direitos e redução de salĂĄrios em todo o Brasil".

Segundo os Ășltimos dados oficiais de remuneração dos docentes, disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais AnĂ­sio Teixeira (Inep), em média, os professores da rede privada recebiam, em 2018, R$ 3.399,19 brutos, por 40 horas de trabalho semanais. A média da rede pĂșblica - considerando as escolas municipais, estaduais e federais - era R$ 4.585,53 brutos.

CenĂĄrio diverso

O presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), Bruno Eizerik, que representa as instituições privadas, contesta os dados da pesquisa. Segundo ele, as escolas particulares são muito diversas, assim como os salĂĄrios pagos. "O professor precisa ser bem remunerado, isso a gente não tem dĂșvida nenhuma", diz.

Eizerik afirma ainda que anualmente os salĂĄrios são renegociados com os docentes, mas que, por conta da pandemia, em alguns locais, não foi possĂ­vel haver reajustes. "No momento era importante garantir os empregos, mas não temos uma situação uniforme no Brasil", diz.

As escolas de ensino infantil, de acordo com ele, foram as que mais foram impactadas, sobretudo aquelas que atendiam a alunos de até 3 anos, idade em que a educação ainda não é obrigatória e que é muito difĂ­cil conduzir atividades de maneira remota. Nessa etapa, muitos alunos deixaram as escolas.

Tanto Eizerik quanto Coelho defendem que são necessĂĄrias polĂ­ticas pĂșblicas, como a desoneração da folha de pagamento e financiamentos, para ajudar a manter as escolas particulares. "A escola particular é meio colocada de lado, vista como elitizada, porém se ela não existir, a escola pĂșblica não supre a necessidade de matrĂ­culas", defende Coelho.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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