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CFM jĂĄ permite reprodução com material de casal do sexo masculino

Norma permite o uso de óvulos de parentes para gerar bebĂȘs

Por Redação em 01/05/2022 às 21:20:13
© REUTERS/Kacper Pempel/Direitos Reservados

© REUTERS/Kacper Pempel/Direitos Reservados

Após a atualização dos critérios de reprodução assistida no Brasil, ocorrida em julho do ano passado, começam a nascer os primeiros bebĂȘs de casais homoafetivos formados por homens.

Isso só foi possĂ­vel graças à aprovação da Resolução 2.294/2021 , do Conselho Federal de Medicina (CFM), que desde a publicação, em julho de 2021 que permite o uso de óvulos de parentes, de até quarto grau, para gerar bebĂȘs por meio de reprodução assistida.

Os primeiros bebĂȘs a serem concebidos depois da publicação da norma são os gĂȘmeos Marc e Maia, filhos do casal Robert e Gustavo. As crianças, que estão com dois meses de vida, são o motivo da alegria dos pais.

"É um prazer gigantesco, tem sido o momento mais especial da nossa vida. Tem momentos de desespero também: na hora que os dois começam a chorar e às vezes a gente não sabe o que fazer, aĂ­ tenta uma coisa, tenta outra, dĂĄ o leite, troca fralda, até conseguir alinhar. Mas tirando isso, é uma rotina muito animada, é muito gostoso", diz o engenheiro Gustavo Catunda de Rezende.

O casal usou o material genético de Robert, o óvulo da irmã de Gustavo e o ventre da prima de Gustavo, que carregou os gĂȘmeos durante as 35 semanas de gestação.

Casais gays podem ter bebĂȘs com material genético dos dois pais
Casais gays podem ter bebĂȘs com material genético dos dois pais - Arquivo pessoal


A relação com a prima continua o mesmo. "A gente se fala praticamente todos os dias. Infelizmente a gente mudou para São Paulo, ela estĂĄ em BrasĂ­lia. Mas em breve ela deve vir visitar a gente, visitar os bebĂȘs. É um prazer gigantesco, mas é sempre bom lembrar que barriga solidĂĄria não configura mudança em arranjo familiar. Então a relação dela com os meus filhos é a mesma se tivesse nascido do meu próprio Ăștero, então ela é tia ou prima dos bebĂȘs, como elas preferirem", disse Gustavo.

O casal de engenheiros e criadores de conteĂșdo montou no Instagram o perfil @2depais para compartilhar todo o processo de fertilização in vitro, gestação, parto e os melhores momentos da vida de Marc e Maya.

Mudança

Antes da atualização desta resolução, só era permitido aos casais homoafetivos do sexo feminino a gestação compartilhada, onde uma das mulheres captava os óvulos e a outra gestava, com espermatozoides doados. "Na resolução de 2021 entrou o entendimento de que casais do sexo masculino tem essa total liberdade. Mas, no caso do casal masculino, não pode ser embriões provenientes de espermatozoides de um e de outro, tem que ser de um ou de outro, porque a carga genética precisa ser conhecida", explica a médica especialista em reprodução assistida na Huntington Medicina Reprodutiva, Thais Domingues.

A resolução diz que "Na eventualidade de embriões formados de doadores distintos, a transferĂȘncia embrionĂĄria deverĂĄ ser realizada com embriões de uma Ășnica origem para a segurança da prole e rastreabilidade".

Avanço

Membro da Câmara Técnica do CFM que se dedica ao tema da reprodução assistida e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, o médico Adelino Amaral Silva, especialista em Reprodução Humana Assistida pela Federação Brasileira de Ginecologia e ObstetrĂ­cia (FEBRASGO), considera a atualização da resolução um avanço.

Casais gays podem ter bebĂȘs com material genético dos dois pais
Casais gays podem ter bebĂȘs com material genético dos dois pais - Arquivo pessoal

"A resolução veio acompanhar a evolução dos modelos de famĂ­lia. A união homoafetiva jĂĄ é uma entidade reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal, é totalmente legal. O CFM tinha realmente que legislar em prol desses casais. Isso foi uma proposta que saiu da câmara técnica de maneira que vocĂȘ não descrimine, que inclua e assim tenham direito a fazer a sua famĂ­lia. Eu considero um avanço. Nos Ășltimos dez anos o conselho vem sempre na vanguarda para aperfeiçoar as suas resoluções de acordo com a evolução dos modelos familiares e evolução do perfil sociológico", afirma o médico.

Procedimento

Existem cinco técnicas de reprodução assistida, entre elas a fertilização in vitro (FIV), opção utilizada para os casais homoafetivos. A FIV segue as seguintes etapas: cerca de dez dias depois da menstruação é feita uma medicação subcutânea, que é uma injeção na barriga para fazer os folĂ­culos crescerem, chamada estimulação ovariana.

"Então no Ășltimo dia, que seria perto do dia ovulatório normal da mulher, a gente retira os óvulos por via vaginal e esses óvulos são fertilizados com sĂȘmen de doador, no caso do casal do sexo feminino, e depois de cinco dias são formados os blastócitos [células primordiais do embrião]. Se não tiver indicação de congelamento, eles podem ser introduzidos jĂĄ na mulher, que pode ser tanto naquela que retirou os óvulos, quanto na outra, se ela tiver feito o preparo do Ăștero para receber os embriões", explica a médica.

Para os casais homoafetivos formados por homens, quem faz essa retirada de óvulos é uma doadora. JĂĄ a gestante de substituição deve pertencer à famĂ­lia de um dos parceiros em grau de parentesco consanguĂ­neo até o quarto grau, desde que não ocorra a consanguinidade. Além desse vĂ­nculo, a cedente deve ter pelo menos um filho vivo. No Brasil, não é permitida a "barriga de aluguel", ou seja, a cessão temporĂĄria do Ăștero não pode ter carĂĄter lucrativo.

"Os óvulos podem estar congelados ou pode ser retirado no momento que eles vão colher o sĂȘmen. Os dois podem colher [o sĂȘmen] para fertilizar, mas na hora da transferĂȘncia só pode fertilizar material de um dos dois homens", reforça a especialista.

TransgĂȘneros

Outra novidade da resolução é que foi inserido o grupo de transgĂȘneros para tratamento de reprodução assistida. No entanto, a preparação deve ocorrer antes da mudança de sexo, aconselha a médica.

"É extremamente importante, antes de fazer a mudança de sexo, com uso hormônio e tudo mais, aconselhĂĄ-los a congelar tanto o óvulo, quanto o espermatozoide, para no futuro não precisar passar por um desconforto de parada de hormônios para tentar resgatar uma função do órgão reprodutor".

Edição: Claudia Felczak

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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