Em uma cerimônia carregada de emoção, apenas trĂȘs dias após os atos terroristas que depredaram os prédios da RepĂșblica, Sônia Guajajara assumiu, nesta quarta-feira (11), no PalĂĄcio do Planalto, o Ministério dos Povos IndĂgenas e Anielle Franco, o Ministério da Igualdade Racial.
As cerimônias de ambas, que não seriam realizadas conjuntamente, tiveram que ser remarcadas em uma só solenidade após o vandalismo golpista do domingo (8). A união acabou gerando um encontro simbólico da riqueza ancestral que compõe a identidade brasileira. Povos de terreiro, e sua herança africana, ao lado de indĂgenas de diferentes etnias, coloriam o Salão Nobre do PalĂĄcio do Planalto e emocionaram as centenas de presentes.
Desta vez, a assunção ministerial contou com a presença do próprio presidente Luiz InĂĄcio Lula da Silva, que não acompanhou as de outros auxiliares ao longo da semana passada. Ele estava acompanhado da primeira-dama, Janja da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin e ministros.
Em seu discurso de posse, Sônia Guajajara, a primeira indĂgena a ocupar um cargo de ministra, afirmou que os povos originĂĄrios vivem uma crise humanitĂĄria no Brasil. Ele citou como causas as invasões de territórios, o desmatamento, o garimpo ilegal, a falta de assistĂȘncia adequada em saĂșde e saneamento, entre outros.
"Não é mais possĂvel convivermos com povos indĂgenas submetidos a toda sorte de males, como desnutrição infantil e de idosos, malĂĄria, violação de mulheres e meninas e altos Ăndices de suicĂdio. Presidente Lula, arrisco dizer, sem exagero, que muitos povos indĂgenas vivem uma verdadeira crise humanitĂĄria em nosso paĂs e agora estou aqui para trabalharmos juntos, para acabar com a normalização deste estado inconstitucional que se agravou nestes Ășltimos anos", afirmou.
Guajajara também falou da emergĂȘncia climĂĄtica e de como os territórios indĂgenas são essenciais no combate ao aquecimento global.
"Se, antes, as demarcações tinham enfoque sobretudo na preservação da nossa cultura, novos estudos vĂȘm demonstrando que a manutenção dessas ĂĄreas tem uma importância ainda mais abrangente, sendo fundamentais para a estabilidade de ecossistemas em todo o planeta, assegurando qualidade de vida, inclusive nas grandes cidades. DaĂ a importância de reconhecer os direitos originĂĄrios dos povos indĂgenas sob as terras em que vivem", disse a ministra.
A nova ministra também chamou a atenção da sociedade para a preservação do planeta. "Nós não somos os Ășnicos que necessitam aqui viver. Nós apenas coabitamos a mãe Terra junto com milhões de outras espécies. O desprezo por essas outras formas de vida, as prĂĄticas de desmatamento intenso feitas sempre em nome da economia de curto prazo, tĂȘm efeitos devastadores para o futuro de todos nós", alertou.
Guajajara aproveitou para anunciar a recriação do Conselho Nacional de PolĂtica Indigenista, extinto em 2019, pelo governo anterior. "[O conselho] garante a participação paritĂĄria entre representações indĂgenas de todos os estados brasileiros e órgãos do executivo federal", enfatizou a ministra.
Ao final do discurso da ministra dos Povos IndĂgenas, o povo Terena fez uma apresentação da Dança da Ema.
Edição: Fernando Fraga
Fonte: AgĂȘncia Brasil