PREFEITURA SANTANA

Democratização do livro serĂĄ foco do presidente da Biblioteca Nacional

Marco Lucchesi quer levar leitura a toda a população

Por Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro em 13/01/2023 às 14:37:40
© Tomaz Silva/Agência Brasil

© Tomaz Silva/Agência Brasil

A democratização do livro e da leitura, a exemplo do que realizou em sua gestão na Academia Brasileira de Letras (ABL), serĂĄ um dos focos principais de atuação do novo presidente da Biblioteca Nacional (BN), professor Marco Lucchesi. A posse de Lucchesi estĂĄ prevista para o próximo dia 24, na sede da instituição, no Rio.

Em entrevista à AgĂȘncia Brasil, Lucchesi disse que ficou emocionado quando recebeu o convite da ministra da Cultura, Margareth Menezes, no dia 30 de dezembro passado, para assumir a BN, quando estava hĂĄ um ano na ItĂĄlia. "O telefone me alegrou a tal ponto que eu interrompi o meu ano sabĂĄtico e voltei correndo ao Brasil, porque esse amor pela Biblioteca Nacional é ilimitado e habita absoluta gratuidade, a vontade de servir à biblioteca e à retomada dos destinos do paĂ­s de forma mais ampla e inclusiva".

O presidente da BN quer continuar a missão de levar a leitura não só aos presos, quilombolas, comunidades carentes, aldeias indĂ­genas, mas a toda a população brasileira. Uma de suas Ășltimas experiĂȘncias à frente da ABL foi visitar comunidades ribeirinhas da Amazônia, depois do Arquipélago das Anavilhanas, utilizando os navios da Esperança da Marinha, que levavam remédios, médicos e instrumentos de exame. "E eu pedi que levassem também livros, porque livro é sempre um grande remédio, mas sobretudo em momento de pandemia, que é preciso trabalhar com sonho, com perspectiva".

Apoio de funcionĂĄrios

Lucchesi afirmou ainda que pretende ouvir todos os funcionĂĄrios da instituição, que frequenta desde os 15 anos de idade. Ele costuma dizer que "desde que um presidente não atrapalhe a Biblioteca Nacional, a BN caminharĂĄ sempre muito bem, porque é formada por quadros maduros, responsĂĄveis, republicanos, que se dedicaram a vida inteira à instituição, resultado da interação de muitas gerações". Para o professor, trata-se de um trabalho técnico bonito, que merece todo o aplauso, inclusive pela resistĂȘncia em diversos momentos. A presença dos grandes técnicos e funcionĂĄrios ajudou a preservar e ampliar o grande acervo.

Fachada da Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro é restaurada - Fernando Frazão/AgĂȘncia Brasil

Lucchesi quer conversar ainda com os funcionĂĄrios que se aposentaram, cuja participação considera muito importante porque se trata de um trabalho plurigeracional, com visões distintas, mas que sempre se acumularam. Manifestou preocupação com a preservação do acervo "que pertence ao Brasil, ao povo brasileiro e também ao planeta Terra". É objetivo ouvir todas as propostas e enfrentar os desafios.

Um desses desafios consiste em trabalhar as demandas atuais do livro. A BN tem a perspectiva de depósito, catalogação, armazenamento, produção de metadados, conservação. No que se refere à preservação, em especial, serão abrangidos desde os livros fĂ­sicos, em seus vĂĄrios suportes, até os livros nascidos digitalmente. "Tanto livros fĂ­sicos qunto digitais são igualmente desafiadores", comentou.

A internacionalização da Biblioteca Nacional é outra meta de Lucchesi. Ele pretende ampliar as mĂșltiplas relações da instituição, a oitava do gĂȘnero no mundo, não só no mundo ocidental, como no oriental. Destacou o fato de o Ministério da Cultura renascer, com o acolhimento e a democratização pelo novo governo. "Toda essa ideia de reconstrução transmite uma imagem que me parece muito grata. Estamos todos nós, brasileiros, em meio a muitas ruĂ­nas, e é preciso reorganizĂĄ-las, reconstruĂ­-las.

Educação

A biblioteca digital contarĂĄ com o apoio também da nova administração da BN. "Na defesa do infinito, a ideia é democratizar cada vez mais o acesso, com o compromisso de incluir a cidadania ao esforço democrĂĄtico, o compromisso de ler o Brasil, ler o mundo, reconstruir o mundo e o Brasil". O novo titular da Biblioteca Nacional disse que concorda com o ministro da Educação, Camilo Santana, que afirmou que a escola em tempo integral constitui grande polĂ­tica não só educacional, mas de prevenção à violĂȘncia. Para Marco Lucchesi, a educação e o livro são instrumentos para deter a violĂȘncia, principalmente entre os jovens.

Na sua opinião, o Brasil nos Ășltimos anos careceu de um projeto educacional profundo, sem invasão da fé com fins de instrumentalização, como foi visto recentemente. Houve falha na produção de interfaces necessĂĄrias a um projeto de justiça social, comentou. "Defender a RepĂșblica, a cultura, a ciĂȘncia, a vacina, defender tudo aquilo que foi negado nesses Ășltimos anos de treva e obscurantismo".

Visitas

Faz parte também dos projetos do novo presidente da BN promover encontros com crianças e jovens para conhecerem a instituição, criada hĂĄ mais de 200 anos e que reĂșne acervo de cerca de 9 milhões de itens. Quando presidia a ABL, Lucchesi recebeu, falando em guarani, crianças da aldeia de MaricĂĄ. "Organizamos também um seminĂĄrio, para que elas falassem sobre a própria cultura, em sua lĂ­ngua". A ABL recebeu ainda a visita de representantes do Instituto Benjamim Constant, de educação de cegos.

Na Ășltima semana, em época de férias, foram registradas mais de 3 mil pessoas em um Ășnico dia, celebrou Lucchesi. Reforçou que a ideia é trabalhar com a visita guiada, tornando a BN, mais antiga instituição cultural brasileira, um local acolhedor de novos visitantes, sobretudo estudantes que vivem em periferias e que, muitas vezes, se sentem intimidados pela beleza, pela opulĂȘncia do prédio. Queremos que todos compreendam que essas casas são nossas, da sociedade brasileira, não pertencem a ninguém. Por isso ela se chama Biblioteca Nacional, biblioteca cidadã".

"Essa biblioteca precisa ser fraterna, materna, cidadã". Ao contrĂĄrio do que ocorreu em julho do ano passado, quando recusou a medalha da Ordem do Mérito do Livro, concedida pela Biblioteca Nacional para personalidades que contribuem com a literatura - porque a honraria seria entregue também ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), apoiador do ex-presidente da RepĂșblica - Lucchesi disse que a distribuição de homenagens pela BN seguirĂĄ maior critério a partir de agora.

Ainstituição tem uma Comissão de Ética, que deverĂĄ atuar com transparĂȘncia, sem conflito de interesses, priorizando o mérito que se reconheça, "não importa onde esteja, de quem seja, de onde venha, se é de direita ou de esquerda. Não importa. A Biblioteca não é uma fĂĄbrica de produção de propagação ideológica. Ela é nacional, é republicana, de Estado e não de governo".

Edição: Graça Adjuto

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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