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Torres: houve "falha grave" no plano de segurança do dia 8 de janeiro

Anderson Torres prestou depoimento à PolĂ­cia Federal

Por Alex Rodrigues - Repórter da Agência Brasil - Brasília em 03/02/2023 às 21:42:43
© Marcelo Camargo/Agência Brasil

© Marcelo Camargo/Agência Brasil

O ex-secretĂĄrio de Segurança PĂșblica do Distrito Federal Anderson Torres afirmou à PolĂ­cia Federal (PF) que houve "falha grave" na execução do plano operacional definido por órgãos pĂșblicos, que permitiu a ação de vândalos e golpistas que invadiram e depredaram o PalĂĄcio do Planalto, o Congresso Nacional e a sede do Supremo Tribunal Federal (STF), em BrasĂ­lia, no dia 8 de janeiro.

Ex-ministro da Justiça e Segurança PĂșblica do governo Bolsonaro, Anderson Torres estĂĄ preso desde o dia 14 de janeiro, quando retornou dos Estados Unidos, para onde viajou de férias, com a famĂ­lia, dois dias antes do ato antidemocrĂĄtico que culminou no ataque aos TrĂȘs Poderes - Executivo, Legislativo e JudiciĂĄrio. O ataque causou a destruição de instalações pĂșblicas e de parte do patrimônio histórico e artĂ­stico expostos nos prédios.

Nesta quinta-feira (2), Torres prestou depoimento a policiais federais por quase dez horas. Ele relatou que, no dia 6 de janeiro, pouco antes de viajar, se reuniu com o comandante militar do Planalto, general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, com a secretĂĄria distrital de Desenvolvimento Social, Ana Paula Marra, e com a subsecretĂĄria de Operações Integradas da Secretaria de Segurança PĂșblica, CĂ­ntia Queiroz de Castro.

Durante o encontro foi acertado que, a partir do dia 10 de janeiro, Exército e Governo do Distrito Federal (GDF) começariam a remover as pessoas acampadas em frente ao Quartel-General do Exército, iniciando pelas pessoas "vulnerĂĄveis e moradores de rua". O cronograma, contudo, foi atropelado pelos fatos, disse.

Segundo Torres, no mesmo dia 6, representantes das polĂ­cias Militar e Civil do Distrito Federal, do Corpo de Bombeiros, Departamento de Trânsito (Detran), Departamento de Estradas e Rodagem (DER), da PolĂ­cia RodoviĂĄria Federal (PRF), do Senado, da Câmara dos Deputados, do Supremo Tribunal Federal (STF) se reuniram. Com base em informações da Subsecretaria de Operações Integradas do Distrito Federal, aprovaram um protocolo de ações integradas (PAI) para lidar com o ato convocado para o dia 8. A aprovação ocorreu, de acordo com Torres, mesmo sem indĂ­cios de "ações radicais".

O ex-secretĂĄrio acrescentou que, uma vez aprovado, o protocolo deveria ser obrigatoriamente cumprido por todos os órgãos do Distrito Federal. Ele disse que, ao assinar o documento, observou que este continha todas as diretrizes necessĂĄrias para que os órgãos de segurança pĂșblica cumprissem com suas atribuições.

O protocolo estabelecia, por exemplo, que a PM deveria planejar e executar ações de policiamento ostensivo, preservando a ordem pĂșblica durante o ato, manter as tropas especializadas de prontidão para o caso de distĂșrbios e não permitir o acesso de pessoas e veĂ­culos à Praça dos TrĂȘs Poderes.

Ao ser questionado sobre uma declaração do governador afastado Ibaneis Rocha que apontou haver indĂ­cios de que o protocolo de segurança tenha sido sabotado por agentes das forças de segurança pĂșblica, Torres disse não ter nenhuma informação que corrobore a tese, mas que, certamente, houve uma "falha grave" na execução operacional do plano. Segundo ele, se tivesse sido cumprido à risca, o plano teria impedido os atos criminosos de 8 de janeiro.

Acampamento

Torres também disse que, inicialmente, considerou legĂ­tima a mobilização e a permanĂȘncia de pessoas que rejeitavam a vitória eleitoral do presidente Luiz InĂĄcio Lula da Silva na ĂĄrea militar, mas que, com a tentativa de invasão do dia 12 de dezembro, quando ônibus e carros foram incendiados em vias pĂșblicas da capital, ele passou a considerar o risco do acampamento - instalado no local desde 1Âș de novembro do ano passado - atrair criminosos. Segundo ele, isso ficou evidente com a prisão de participantes do acampamento que planejaram explodir uma bomba próximo ao aeroporto de BrasĂ­lia, na véspera do Natal.

O agente federal responsĂĄvel por registrar as declarações informou que Torres disse que os sucessivos crimes fizeram com que o movimento perdesse a legitimidade e que só não atuou antes para desmontar o acampamento por este estar em ĂĄrea pertencente ao Exército, que se opunha a uma ação brusca.

"O ex-ministro mencionou que tinha postura distinta da do comando do Exército e que acabou prevalecendo, [favorĂĄvel à] a manutenção do acampamento", explicou à AgĂȘncia Brasil um dos advogados de Torres, Rodrigo Rocca.

O acampamento só começou a ser desmontado na manhã seguinte aos ataques de 8 de janeiro – por influĂȘncia do Exército e, contrariando a intenção do Ministério da Justiça e Segurança PĂșblica e da própria PolĂ­cia Militar do Distrito Federal, órgãos que, inicialmente, se manifestaram a favor de prisões jĂĄ no inĂ­cio da noite do dia 8, poucas horas após muitos dos vândalos e golpistas que invadiram os prédios pĂșblicos retornarem para a frente do quartel-general militar.

No relatório que analisa os fatores que culminaram nos fatos do dia 8 de janeiro, o secretĂĄrio-executivo do Ministério da Justiça e Segurança PĂșblica, Ricardo Cappelli, nomeado interventor para a Segurança PĂșblica do Distrito Federal, destacou que a PolĂ­cia Militar tentou "desconstituir" o acampamento montado no Setor Militar Urbano, na capital federal, "contudo a ação foi realizada no dia seguinte, a partir de uma ponderação do Exército brasileiro".

Edição: Maria Claudia

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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