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Covid-19: Metrô-SP continua lotado mesmo na Fase Vermelha

Depois de passar pela Fase Emergencial, o estado de São Paulo entrou, na Ășltima segunda-feira (12) na Fase 1-Vermelha do Plano São Paulo, onde somente serviços considerados essenciais podem funcionar. Apesar dessas restrições, o transporte pĂșblico coletivo em São Paulo continua lotado

Por Redação em 15/04/2021 às 19:02:55

Depois de passar pela Fase Emergencial, o estado de São Paulo entrou, na Ășltima segunda-feira (12) na Fase 1-Vermelha do Plano São Paulo, onde somente serviços considerados essenciais podem funcionar. Apesar dessas restrições, o transporte pĂșblico coletivo em São Paulo continua lotado.

"As atividades que foram mantidas [na Fase Vermelha] são suficientes para manter o transporte cheio. Temos a construção civil funcionando. E a construção civil movimenta mais de 150 mil trabalhadores todos os dias na cidade de São Paulo. Tem muita atividade, e que não necessariamente pode ser considerada essencial, que ainda estĂĄ mantida", disse o médico sanitarista Gonzalo Vecina, professor da Faculdade de SaĂșde PĂșblica de São Paulo, em entrevista à AgĂȘncia Brasil.

Transporte pĂșblico cheio é um grave problema para a população porque aumenta o risco de uma pessoa ser infectada pelo novo coronavĂ­rus e ter covid-19. E a situação ainda pode piorar com a chegada das estações mais frias.

"[Utilizar o Metrô] é um risco bem elevado porque as pessoas se aglomeram e não hĂĄ muita ventilação. As janelas teriam que estar abertas para que não houvesse a possibilidade da formação de aerossóis. No calor, isso é mais provĂĄvel [janelas abertas]. Mas no frio serĂĄ mais difĂ­cil e estamos entrando agora no inverno", disse Vecina.

Segundo a Organização Mundial de SaĂșde (OMS), a chance de contrair covid-19 é maior em ambientes cheios e espaços sem ventilação adequada onde as pessoas passam longos perĂ­odos de tempo próximas umas das outras. "Esses ambientes são onde o vĂ­rus parece se espalhar por gotĂ­culas respiratórias ou aerossóis de forma mais eficiente, por isso, tomar precauções é ainda mais importante", alertou o órgão.

Para essa época de pandemia, seria necessĂĄrio que a ventilação no transporte pĂșblico fosse aumentada e que fossem desenvolvidos mecanismos para evitar a aglomeração de pessoas, com os passageiros, preferencialmente, todos sentados. Mas não é o que tem sido observado nas grandes capitais, como São Paulo, por exemplo. E, segundo Vecina, um dos problemas que pode ainda agravar o risco de se pegar o novo coronavĂ­rus é o ar condicionado, muito utilizado no transporte pĂșblico.

"Isso [ar condicionado] é mais perigoso. Esse ar condicionado [geralmente utilizado no transporte pĂșblico] é sem filtro, então vocĂȘ tem a recirculação do aerossol, que o mantĂȘm mais tempo ativo. Num ambiente em que vocĂȘ tem a circulação do ar, o aerossol sofre uma dispersão e vai embora. No caso do Metrô, o ar condicionado recicla esse aerossol, o que é diferente dos aviões. Nos aviões, o ar estĂĄ continuamente sendo renovado, passa por um filtro absoluto, que filtra a partĂ­cula viral. Mas esse ar condicionado, de uma forma geral, que temos em shoppings centers, cinemas e mesmo na nossa casa, esses [modelo] split, não tĂȘm filtros. Eles apenas retém partĂ­culas grandes de poeira. E essas partĂ­culas pequenas, que contém vĂ­rus, eles não filtram. Pelo contrĂĄrio, eles mantĂȘm mais tempo as partĂ­culas virais circulando", explicou.

"A Ășnica maneira de vocĂȘ diminuir a possibilidade de infectados no transporte coletivo é que ele tem que circular com janelas abertas e não deve ter aglomeração, ou seja, de preferĂȘncia ele não deve levar gente em pé, o que é absolutamente difĂ­cil na situação de uma cidade grande como São Paulo", falou Vecina.

DifĂ­cil, mas não impossĂ­vel de ser feito, defendeu. "O sucesso do lockdown em Araraquara foi suspender o transporte coletivo e intermunicipal. Se [a prefeitura de Araraquara] não tivesse suspendido o transporte coletivo e intermunicipal – e eles fizeram essa suspensão por uma semana, eles não teriam tido o sucesso que tiveram na redução de casos e de mortes [por covid-19]", destacou. "Uma coisa é ser difĂ­cil. Outra é ser impossĂ­vel. Se vocĂȘ tiver inteligĂȘncia suficiente no governo municipal, haveria possibilidade de propor algum tipo de alternativa, com certeza", falou.

Diminuição de trens

Além de uma ventilação mais adequada, o transporte pĂșblico deveria promover outra adequação neste momento de pandemia, que é aumentar o nĂșmero de veĂ­culos disponĂ­veis para evitar que as pessoas se aglomerem dentro deles. No entanto, o que se observou no Metrô de São Paulo nesse perĂ­odo foi o oposto: o Metrô diminuiu o nĂșmero de trens em circulação, mesmo no perĂ­odo de pico.

Esse problema foi apontado recentemente pelo jornal O Estado de S.Paulo. O Metrô de São Paulo diminuiu o nĂșmero de trens em circulação e aumentou o tempo de espera nas plataformas. Exatamente no momento em que o distanciamento entre as pessoas precisa ser maior por causa da pandemia. Mesmo o governo paulista negando que tenha ocorrido diminuição no Metrô, o Relatório Integrado Anual Metrô, divulgado no Portal da TransparĂȘncia da companhia, demonstra que houve diminuição no nĂșmero de trens circulando. Inclusive no horĂĄrio de pico.

Na Linha 1-Azul, por exemplo, o nĂșmero de trens em operação no horĂĄrio de pico passou de 41 para 36 entre os anos de 2019 e 2020. JĂĄ na linha 2-verde, foi de 27 para 19. Na Linha 3-Vermelha, que costuma ficar mais cheia diariamente, o total de trens em operação no ano passado foi de 38 no horĂĄrio de pico, contra 41 que circulavam em 2019.

Para o médico sanitarista, a Ășnica solução para, de fato, diminuir a quantidade de pessoas aglomeradas no Metrô durante a pandemia é restringir a circulação. "Não vejo como diminuir o nĂșmero de pessoas no transporte coletivo sem reduzir a atividade econômica. Não tem como. O transporte pĂșblico na cidade jĂĄ é um transporte colapsado por si. Ele é inferior à demanda. Isso é nĂ­tido". "Transporte pĂșblico é a Ășnica alternativa [para muitas pessoas]. Ônibus, trem e metrô são uma obrigação. A Ășnica alternativa é diminuir a atividade econômica e aumentar a frequĂȘncia [nĂșmero de vezes que esses veĂ­culos passam]. Mas estão fazendo justamente o contrĂĄrio", criticou.

Procurada pela AgĂȘncia Brasil, a Secretaria dos Transportes Metropolitanos não explicou porque o nĂșmero de trens foi diminuĂ­do no perĂ­odo. Mas informou que, para prevenir os casos de covid-19 no transporte pĂșblico, estĂĄ fazendo a Operação Monitorada, que atua com avaliação sistemĂĄtica a cada faixa de horĂĄrio, para atender a necessidade do cidadão. "Lembrando que o sistema de trilhos foi projetado e construĂ­do para transportar alto fluxo de pessoas da origem ao destino, aglomerado de pessoas em grandes escalas. Em março de 2020 a demanda chegou a cair 80% em relação a um dia normal e na semana passada – Ășltimo dado disponĂ­vel - a queda era de 61% na média entre as trĂȘs empresas - Metrô, CPTM [trens] e EMTU [ônibus entre a região metropolitana]. Antes da pandemia, as empresas transportavam juntas cerca de 10,5 milhões de passageiros por dia", informou.

Escalonamento

Para tentar diminuir o nĂșmero de passageiros circulando no horĂĄrio de pico, o governo paulista chegou a sugerir um escalonamento de horĂĄrio. Os horĂĄrios indicados são de entrada ao trabalho das 5h às 7h para profissionais da indĂșstria, 7h às 9h para os de serviços e das 9h às 11h para os trabalhadores do comércio. A medida, no entanto, é apenas uma recomendação, que ainda não tem sido cumprida.

"O escalonamento é uma boa ideia. Mas as pessoas tĂȘm que assumir [essa ideia]. Mas ninguém mudou o horĂĄrio de inĂ­cio de trabalho ou de saĂ­da do trabalho. Seria mais uma boa possibilidade para vocĂȘ colocar nessa cesta de possibilidades para conseguir controlar o uso do transporte coletivo. Mas teria que ser algo mais duro [uma obrigação]", falou Vecina.

Campanha nacional

A lotação e aglomeração no transporte pĂșblico se tornou também uma preocupação do governo federal. Esta semana, o ministro da SaĂșde, Marcelo Queiroga, disse que o governo pretende lançar um protocolo com orientações para o transporte pĂșblico. No encontro com os jornalistas, o ministro da SaĂșde cobrou disciplina e uso de mĂĄscaras por quem utiliza transporte pĂșblico, como forma de evitar ainda mais a disseminação do novo coronavĂ­rus.

Segundo Vecina, embora a melhoria nas condições para a prevenção da covid-19 no transporte pĂșblico caiba principalmente aos governos, individualmente, a pessoa pode tomar algumas atitudes para diminuir os riscos de ser infectada. "Individualmente, cada um de nós pode melhorar a vida, com certeza. Por exemplo, usar uma mĂĄscara mais eficaz. Uma mĂĄscara de trĂȘs camadas de pano ou uma mĂĄscara N95 bem ajustada à face. Outra questão é, se o ônibus passa muito cheio, espere o próximo, se vocĂȘ puder esperar o próximo ônibus", alertou.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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