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Mulheres com doutorado crescem, mas são sub-representadas na docĂȘncia

Estudo Ă© da Uerj, com o apoio do Instituto Serrapilheira

Por Ana Cristina Campos - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro em 11/05/2023 às 10:26:37
© Joédson Alves/Agência Brasil

© Joédson Alves/Agência Brasil

Levantamento do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa), do Instituto de Estudos Sociais e PolĂ­ticos (Iesp) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), apoiado pelo Instituto Serrapilheira, mostra que o crescimento do nĂșmero de mulheres com doutorado não tem sido acompanhado pelo mesmo aumento de mulheres na docĂȘncia.

O estudo classifica essa diferença de "efeito tesoura", expressão que busca designar um mecanismo de corte da presença das mulheres na ciĂȘncia: mesmo tendo estoque de doutoras disponĂ­vel, elas são sub-representadas em determinadas funções, como por exemplo, a docĂȘncia.

Um exemplo se dĂĄ na ĂĄrea de ciĂȘncias agrĂĄrias, onde a paridade de gĂȘnero no Ășltimo estĂĄgio da pós-graduação jĂĄ foi alcançada, com 51% de doutoras. Mas apenas 25% dos docentes permanentes nas universidades do paĂ­s são mulheres. Em zootecnia e recursos pesqueiros, o fenômeno se repete: 52% dos doutores titulados são do sexo feminino, mas apenas 36% do corpo docente é de professoras. Para os pesquisadores, isso significa que as mulheres formadas nessas ĂĄreas não estão chegando ao topo da carreira.

"É importante entender o que chamamos de "efeito-tesoura" na ciĂȘncia para localizar exatamente em que etapas da carreira acadĂȘmica as desigualdades de gĂȘnero se instalam: se na formação de doutoras ou no recrutamento de professoras -- ou em ambas", disse, em nota, Luiz Augusto Campos, coordenador do Gemaa e pesquisador apoiado pelo Instituto Serrapilheira.

Por outro lado, a ĂĄrea de ciĂȘncia da computação tem uma das menores proporções de mulheres tanto no corpo docente (cerca de 20%) quanto entre os doutores (apenas 18%). Segundo o pesquisador, aqui não hĂĄ, portanto, que se falar em "efeito tesoura", jĂĄ que a proporção de professoras é próxima à de doutoras. O problema é outro -- a baixa presença de mulheres em geral -- e indica, por exemplo, que as polĂ­ticas para a diversificação dessa ĂĄrea devem investir tanto na contratação de professoras mulheres quanto na formação de mais doutoras.

"O desenho e a implementação de polĂ­ticas pĂșblicas para garantir a igualdade de gĂȘnero na ciĂȘncia precisam de dados robustos que revelam as discrepâncias entre as diversas ĂĄreas do conhecimento e sinalizam os pontos crĂ­ticos a serem tratados", afirmou Cristina Caldas, diretora de CiĂȘncia do Instituto Serrapilheira, em nota. "Por isso, é fundamental realizar estudos e repeti-los sistematicamente para avaliar o impacto de polĂ­ticas ao longo do tempo."

HĂĄ ainda casos como o da ĂĄrea de ciĂȘncias biológicas, que apresenta paridade de gĂȘnero entre os docentes, com quase 50% de mulheres professoras em programas de pós-graduação. Mas esse percentual é bem inferior à presença de doutoras formadas, que é próxima de 70%. Trata-se, portanto, de um cenĂĄrio de maior equilĂ­brio entre os gĂȘneros, mas com algum efeito tesoura.

Outras ĂĄreas alcançaram a paridade de gĂȘnero tanto na docĂȘncia quanto no nĂ­vel de doutorado, sem efeito tesoura. É o caso de arquitetura e urbanismo (53% de doutoras e 51% de professoras permanentes), história (47% de doutoras e 45% de professoras permanentes) e artes (48% de doutoras e 51% de professoras permanentes).

"O fato de uma ĂĄrea não sofrer efeito tesoura não quer dizer que ela tenha um cenĂĄrio de equidade. Ao contrĂĄrio, ĂĄreas com sub-representatividade feminina similar na discĂȘncia e na docĂȘncia são as que mais precisam de atenção. O que essa anĂĄlise ajuda a entender é sobre quais grupos as polĂ­ticas de equidade devem atuar", disse Campos.

Metodologia

O estudo se baseou em dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de NĂ­vel Superior (Capes). O Gemaa agrupou informações de docentes com vĂ­nculo permanente na pós-graduação e discentes titulados como mestres ou doutores entre os anos de 2004 e 2020, o que totalizou 3.904.422 casos durante o perĂ­odo. Depois, foi atribuĂ­do gĂȘnero a 3.761.970 casos (96% da base), que permite extrair o sexo presumido do indivĂ­duo a partir de um nome. Os 4% restantes correspondem a nomes raros.

Segundo o Gemaa, é importante destacar que essa classificação tem a limitação de ser binĂĄria. O grupo de estudos ressalta que ainda não hĂĄ recursos para alcançar esse grande montante de acadĂȘmicos por outros meios.

Edição: Graça Adjuto

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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