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Nova lei retoma polĂ­tica nacional de educação em tempo integral

Modalidade de ensino prevĂȘ jornada igual ou superior a 7 horas diĂĄrias

Por Lucas Pordeus León - Repórter da Agência Brasil - Brasília em 26/07/2023 às 09:53:19
© Marcelo Camargo/Agência Brasil

© Marcelo Camargo/Agência Brasil

A criação do Programa Escola em Tempo Integral representa uma retomada da polĂ­tica nacional para ampliação de matrĂ­culas no ensino em tempo integral, segundo avaliam os especialistas ouvidos pela AgĂȘncia Brasil. A lei que cria o programa serĂĄ sancionada em breve.

A nova legislação regulamenta o repasse de recursos e de assistĂȘncia técnica da União para estados, Distrito Federal e municĂ­pios, visando ampliar o nĂșmero de vagas nessa modalidade de ensino, que prevĂȘ uma jornada igual ou superior a 7 horas diĂĄrias, ou 35 horas semanais. Segundo o Ministério da Educação (MEC), serão investidos R$ 4 bilhões no programa, que tem a meta de criar, até o ano de 2026, 3,6 milhões de novas vagas, sendo 1 milhão de novas matrĂ­culas logo na primeira etapa.

Retomada

Para a diretora da Associação Cidade Escola Aprendiz, Natacha Costa, a lei representa a retomada de uma agenda nacional para escolas em tempo integral, uma vez que o programa sofreu uma redução a partir do governo de Michel Temer.

"Temer transformou o Programa Mais Educação no Programa Novo Mais Educação, este com foco apenas em reforço escolar. Então, houve um reducionismo da concepção do programa. Além disso, o investimento caiu drasticamente. O Programa Mais Educação foi reduzido e depois descontinuado. Bolsonaro extinguiu o programa", destacou a especialista da organização que, hĂĄ mais de 25 anos, atua na ĂĄrea da educação no Brasil.

Natacha acrescentou que o governo federal, nesse perĂ­odo, decidiu investir apenas na ampliação da jornada do ensino médio através do Novo Ensino Médio. JĂĄ entre os governos estaduais, ela registra que as iniciativas de ampliação da jornada no ensino médio tiveram o apoio de institutos e fundações privadas.

Segundo Natacha, a polĂ­tica de escolas em tempo integral ganhou dimensão nacional pela primeira vez em 2007, com a criação do Programa Mais Educação. Em 2014, o Plano Nacional de Educação (PNE) estabeleceu como meta que 50% das escolas do paĂ­s devem oferecer ensino em tempo integral, com 25% dos alunos matriculados nessa modalidade até o final de 2024.

Porém, entre 2015 e 2021, o percentual de alunos de escolas pĂșblicas em tempo integral caiu de 18,7% para 15,1% do total de matrĂ­culas, segundo levantamento da Campanha Nacional pelo Direito à Educação feito com dados do Censo Escolar do MEC. Com isso, o Brasil estĂĄ a 10 pontos percentuais de atingir a meta do PNE.

Recursos

Para a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), a polĂ­tica nacional de escola em tempo integral sofreu nos Ășltimos anos devido à falta de investimentos.

"Nesse perĂ­odo, a falta de investimentos e de um olhar para essa questão fez com que ou se paralisasse ou se caminhasse a passos muito curtos. VocĂȘ também não teve um olhar para o financiamento de outras polĂ­ticas, como da alimentação escolar e da reorganização do transporte. Isso gerou uma falta de estĂ­mulo e até um efeito paralisia porque os municĂ­pios e estados não tiveram recursos para arcar com todo esse custo", destacou o presidente da Undime, Luiz Miguel Garcia, que também é dirigente municipal de educação do municĂ­pio de Sud Mennucci (SP).

Garcia acrescentou que a criação do Programa Escola em Tempo Integral é importante, sendo fundamental que haja um ajuste no financiamento.

"Esse é o elemento central. Nós temos aĂ­ todo um processo de capacitação, de estruturação de equipe, de pessoal e de proposta pedagógica. Mas tudo isso passa pela garantia do financiamento. Sem essa garantia, a gente não consegue avançar em nenhum desses outros pontos."

Os recursos jĂĄ anunciados para a polĂ­tica de escola em tempo integral não devem ser suficientes, segundo avaliação do presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Heleno AraĂșjo.

"Se o Tribunal de Contas da União (TCU) fiscalizou e encontrou que mais da metade das escolas são inapropriadas, R$ 4 bilhões nos quatro anos do programa são suficientes para recuperar essas escolas?", questionou o presidente do CNTE, para quem é preciso recuperar as escolas que existem e criar novas para o tempo integral.

Heleno se referiu a fiscalização do TCU que concluiu que 57% das escolas pĂșblicas são inapropriadas.

AraĂșjo ponderou ainda que a nova legislação é importante e necessĂĄria, mas que falta uma base normativa mais sólida para sustentar programas como esse que, segundo ele, ficam à mercĂȘ do governo "de plantão". Ele citou a ausĂȘncia de uma lei para o sistema nacional de educação "que nós entendemos que deve articular as questões financeiras e técnicas entre os entes federados" e a ausĂȘncia de leis locais para gestão democrĂĄtica da educação brasileira. "São leis fundamentais para vocĂȘ articular os sistemas de ensino federal, estaduais, distrital e municipais", opinou.

Matéria alterada às 8h30 do dia 26/07 para acréscimo do quinto parĂĄgrafo. Alterada também às 9h17 para correção no primeiro parĂĄgrafo: o presidente Lula sancionaria a lei nesta quarta-feira (26), mas a agenda foi cancelada por problemas de saĂșde.

Edição: Denise Griesinger

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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