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GrĂȘmio estudantil estĂĄ presente em uma a cada dez escolas pĂșblicas

Estudo foi feito nos estados do AmapĂĄ, Amazonas e Maranhão

Por Mariana Tokarnia - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro em 02/08/2023 às 10:42:55
© Rovena Rosa/Agência Brasil

© Rovena Rosa/Agência Brasil

Organização de estudantes, sem fins lucrativos, que representa o interesse dos próprios estudantes na escola, são os chamados grĂȘmios estudantis. No Brasil, eles estão presentes em 12,3% das escolas pĂșblicas. A maioria, na região Sudeste e em ĂĄreas urbanas. Os dados são do Mapeamento de GrĂȘmios Estudantis no Brasil, que serĂĄ lançado nesta quarta-feira (2) ao qual a AgĂȘncia Brasil teve acesso com exclusividade.

O mapeamento foi realizado pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, em parceria com a Iniciativa Nós, o Projeto Seta - Sistema de Educação PĂșblica Antirracista no Brasil e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes).

O estudo mostra que cerca de uma a cada dez escolas pĂșblicas tĂȘm um grĂȘmio estudantil. Isso significa que a maioria, aproximadamente nove a cada dez escolas, não conta com esses espaços. Além disso, mostra que hĂĄ significativa disparidade regional. Na região Sudeste, essa porcentagem chega a 22,9% das escolas, enquanto na região Norte, a 3,2%.

Escolas com maioria de alunos negros tĂȘm menos grĂȘmios em comparação com a média geral. Isso se observa, segundo o levantamento, tanto no âmbito nacional, com 8,2% das escolas com maioria de estudantes negros que contam com grĂȘmio estudantil, frente a 12,3% em todo o paĂ­s; quanto no âmbito regional. Nas regiões do Sudeste são 16,4% frente a 22,9%, no Sul, 12,8% frente a 16,9%, e Centro-Oeste, 6,6% frente a 7,2%.

O levantamento utiliza dados desagregados do Censo Escolar 2021, com enfoque nos estados do AmapĂĄ, Amazonas e Maranhão - estados da Amazônia legal - e inclui uma pesquisa qualitativa do Estado Maranhão sobre os grĂȘmios e a participação estudantil na escola.

De acordo com o mapeamento, o que se observa é que ainda existem muitos problemas no preenchimento dos dados e de informações sobre a existĂȘncia de grĂȘmios nas escolas. "Exemplo disto é a ausĂȘncia de informações sobre as formas de participação existentes nas escolas indĂ­genas e quilombolas, por exemplo. O Censo Escolar não tem separação entre escolas do campo e quilombolas, o que também dificulta o refinamento da anĂĄlise", diz a pesquisa.

Na educação do campo, indĂ­gena e quilombola, a prevalĂȘncia de grĂȘmio estudantil nas escolas estĂĄ aquém da média nacional: 3,8%, 1,7% e 2,3% respectivamente. O mapeamento mostra que a exceção a estes casos é a educação especial inclusiva, que apresenta taxas superiores à média geral tanto nacional quanto em todas as regiões. Segundo a pesquisa, este padrão pode estar relacionado a eventual maior concentração desta oferta em escolas urbanas, maiores e/ou mais estruturadas em relação à média da rede pĂșblica.

O estudo também calcula as chances de uma escola possuir um grĂȘmio e mostra que as escolas rurais tĂȘm chance 81% menor de possuir grĂȘmio estudantil em relação às escolas urbanas. JĂĄ as redes municipais tĂȘm chance 95% menor do que na rede federal e 69% menor do que nas redes estaduais de contar com esses espaços.

Dentro e fora da escola

Para a estudante do 3Âș ano do ensino médio, Beatriz Diniz, o grĂȘmio foi um espaço para trazer para a escola discussões de gĂȘnero e de raça. Como uma menina negra, ela desde de criança, quando conheceu a existĂȘncia dos grĂȘmios, se encantou e viu neles a possibilidade de pautar discussões e de mudar a realidade dentro e fora da escola.

Após o perĂ­odo de fechamento das escolas na pandemia, Diniz foi a responsĂĄvel pela reativação do grĂȘmio na unidade do Instituto Estadual de Educação, CiĂȘncia e Tecnologia do Maranhão onde estuda. "O grĂȘmio estudantil, a liderança estudantil como um todo, acaba tirando a gente de apenas uma bolha", conta. Naquele momento, segundo ela, o grĂȘmio foi importante para que os estudantes pudessem assimilar os impactos da pandemia e para discutir o novo ensino médio, que os impactaria diretamente.

As conquistas dos grĂȘmios podem ser vĂĄrias. Podem ir desde pinturas para a escola, ventiladores em sala de aula, espaços para prĂĄticas de esporte ou artes e até ações que ultrapassem os muros da escola e envolvam a comunidade como um todo. Foi isso que aconteceu com a campanha Cada voto conta, da qual Diniz fez parte. O objetivo era incentivar os adolescentes a tirarem o tĂ­tulo de eleitor para as eleições de 2022. A mobilização, que ocorreu em todo o paĂ­s fez com o que Brasil batesse o recorde de emissão de tĂ­tulos para jovens.

"Às vezes as escolas tĂȘm medo dos estudantes, mas quando vocĂȘ dĂĄ voz, dĂĄ espaço de escolha para esses estudantes, eles entendem a democracia, entendem o processo democrĂĄtico, entendem a importância deles na sociedade através da escola, com esse pequeno gesto", diz a estudante.

Organização dos estudantes

Desde 1985, os grĂȘmios e outras entidades de estudantes estão previstas na Lei 7.398/1985, chamada de Lei do GrĂȘmio Livre, que assegurada a organização de estudantes em entidades autônomas e representativas com finalidades educacionais, culturais, cĂ­vicas esportivas e sociais.

Segundo a coordenadora geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Andressa Pellanda, a intenção do levantamento é fortalecer os grĂȘmios estudantis, ajudar a criar esses espaços onde eles ainda não existem e criar pontes entre os grĂȘmios. "Os grĂȘmios estudantis são importantĂ­ssimos para garantia da gestão democrĂĄtica na escola mas também para a garantia da formação plena dos estudantes que precisam ter esse espaço para se desenvolver, para pensar criativamente, se organizar, viver em sociedade. E, também porque o grĂȘmio estudantil é parte essencial da estrutura de convivĂȘncia escolar, um tema que sido muito falado, infelizmente, pelos casos de violĂȘncia nas escolas.

Alunos saindo de escola na Estrutural, no Distrito Federal
GrĂȘmios estudantis são importantes para garantir gestão democrĂĄtica na escola, diz coordenadora Arquivo/AgĂȘncia Brasil

A secretĂĄria da Secretaria de Estado ExtraordinĂĄria da Juventude (Seejuv), do Maranhão, Tatiana Pereira, conta que quando se entra em escolas onde hĂĄ presença de grĂȘmios, logo se nota a diferença. "O que a gente consegue perceber é que existe um ganho na representação desse ambiente da escola. O grĂȘmio acaba virando porta-voz, consegue contribuir bastante, inclusive cobrando o estado em relação a questões que estão acontecendo dentro da escola. A gente fica feliz. Uma resposta importante é conseguir perceber que esse estudante é diferenciado, quando se chega a uma escola com grĂȘmio estudantil, vĂȘ-se que tem liderança naquele lugar e isso é importante. É fundamental o estado investir em programas como este", defende.

No Maranhão, em 2011, foi sancionada a Lei 9.518, que assegura a livre organização de grĂȘmios estudantis nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, pĂșblico ou privado do estado. Em 2020, por meio da portaria 244/2020, o governo do estado regulamentou o processo de eleição unificada da diretoria do grĂȘmio e de representantes de turma nas escolas pĂșblicas.

"É de fato garantir que o estudante consiga vivenciar o dia a dia da escola. Não ficar preso a matérias comuns da escola, mas também se envolver no processo de gestão da própria escola", ressalta a secretĂĄria.

Eu e tu

O mapeamento faz parte do projeto Euetu – GrĂȘmios e Coletivos Estudantis, lançado em 2011 pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação que lançou, em 2021, o Projeto Euetu - GrĂȘmios e Coletivos Estudantis. A iniciativa busca mapear grĂȘmios e coletivos escolares das redes municipais e estaduais para conhecer mais sobre participação e organização de estudantes na gestão escolar.

O objetivo é fortalecer grupos e movimentos locais - especialmente junto às juventudes negras, quilombolas, indĂ­genas, ribeirinhas, do campo, de periferias de grandes centros urbanos.

Este é o primeiro lançamento do projeto que conta com um mapeamento nacional de GrĂȘmios Estudantis com dados do Censo Escolar 2021 e um mapeamento qualitativo do estado do Maranhão, por meio de entrevistas e chatbot. O estudo conta com o Guia de GrĂȘmios e Coletivos Estudantis - como construir e fortalecer espaços de participação. Na segunda fase, ainda este ano, o projeto serĂĄ expandido no Rio de Janeiro e em São Paulo, que são maiores centros urbanos do paĂ­s.

Edição: Valéria Aguiar

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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