Uma gestante que nunca teve catapora tem contato direto com uma pessoa com a doença, que é altamente transmissĂvel e pode causar malformação em bebĂȘs. Mesmo com a tetraviral disponĂvel desde a infância, ela nunca se vacinou e descobre que não pode receber as doses durante a gravidez, porque a vacina tem vĂrus vivos atenuados que também podem fazer mal ao bebĂȘ.
Para casos como esse, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) também oferece uma forma de se proteger: as imunoglobulinas, que são imunobiológicos que contĂȘm anticorpos jĂĄ prontos para agir contra um possĂvel invasor. E, no caso dessa gestante, a Imunoglobulina humana antivaricela-zoster, vĂrus causador da doença, que deve ser administrada em até 96 horas após a exposição.
Essa situação deixa claro que o PNI e seus instrumentos de prevenção vão muito além das vacinas, exemplifica a coordenadora do Centro de ReferĂȘncia em Imunobiológicos Especiais (CRIE) de Vitória e diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Ana Paula Burian. Conhecido pela oferta de centenas de milhões de doses gratuitas de vacinas por ano, o PNI brasileiro chega aos 50 anos também com um arsenal de soros e imunoglobulinas para casos emergenciais ou situações que requerem estratégias alternativas de imunização.
Entre os 48 imunobiológicos oferecidos pelo PNI, menos da metade, 20, são as vacinas propriamente ditas. Os outros 28 são imunobiológicos especiais, soros e imunoglobulinas como a oferecida à gestante no exemplo citado por Ana Paula.
A imunoglobulina humana antirrĂĄbica é outro exemplo do que o PNI reserva a essas situações especiais. IndivĂduos que apresentaram algum tipo de hipersensibilidade quando utilizaram soros como antitetânico, antirrĂĄbico e antiofĂdico tĂȘm indicação de receber essa imunoglobulina quando passam por uma possĂvel exposição ao vĂrus da raiva, que é letal em praticamente todos os casos. O mesmo se dĂĄ com pessoas que não puderam completar o esquema antirrĂĄbico por eventos adversos da vacina e indivĂduos imunodeprimidos.
Até mesmo soros antiofĂdicos, como o soro antibotrópico (pentavalente), estão no rol de imunobiológicos especiais do PNI. O antibotrópico é indicado para vĂtimas de mordidas de serpentes do gĂȘnero Bothrops, que inclui a jararaca e a surucucu. Outros soros contra envenenamento são o soro antielapĂdico, contra a cobra coral verdadeira, e os soros antiescorpiônico e antiaracnĂdico.
O Instituto Butantan fabrica soros hĂĄ mais de um século, e a produção atualmente envolve a imunização de cavalos com antĂgenos produzidos a partir de venenos, toxinas ou vĂrus. A partir disso, o plasma do animal é submetido a processamento industrial de purificação e formulação, resultando em produtos de alta qualidade, segurança e eficĂĄcia. Outro produtor tradicional desses soros é o Instituto Vital Brazil, do governo do estado do Rio de Janeiro.
Ana Paula Burian destaca que um leque tão grande de imunobiológicos requer muito planejamento, logĂstica e estrutura para chegar às quase 40 mil salas de vacina e aos mais de 50 CRIEs do paĂs, que tem dimensões continentais e diferentes condições de estrutura e clima.
"As pessoas tĂȘm que pensar que, quando o Ministério da SaĂșde compra uma vacina, ele tem que pensar qual é a quantidade de que é preciso, qual é o transporte que vai levar, se vai de avião, de carro, de barco, de caminhão. E tudo isso tem que ser refrigerado. Tem que ter caixa térmica, bobina de gelo e termômetro para manter em uma temperatura adequada, porque, se congelar, perde a potĂȘncia, e, se esquentar, também. Então, vacina e imunobiológico tĂȘm que ficar em um controle rĂgido de temperatura para manter a qualidade. Tem que comprar seringa, agulha. São muitas coisas que se faz, com um sistema informatizado para registrar, para que a população inteira possa ser beneficiada."
Edição: Juliana Andrade
Fonte: AgĂȘncia Brasil