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HIV: estudo mostra resistĂȘncia de mutação a remĂ©dio usado no Brasil

Estudo realizado em parceria entre Brasil e Portugal analisou mais de 20 mil sequĂȘncias genĂ©ticas de HIV de pacientes brasileiros e constatou o aumento de uma mutação especĂ­fica chamada K65R

Por Redação em 03/07/2021 às 21:27:41

Estudo realizado em parceria entre Brasil e Portugal analisou mais de 20 mil sequĂȘncias genéticas de HIV de pacientes brasileiros e constatou o aumento de uma mutação especĂ­fica chamada K65R. Os pesquisadores alertam que isso é preocupante porque a mutação estĂĄ associada à resistĂȘncia a um dos medicamentos usados no tratamento antirretroviral no paĂ­s, o Tenofovir (TDF).

"É o medicamento de primeira linha para começar o tratamento padrão do HIV em pessoas virgens para o tratamento no Brasil", aponta Bernardino Geraldo Alves Souto, professor do Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que participou da pesquisa. Foram coletadas amostras em pacientes em tratamento antirretroviral, no perĂ­odo entre 2008 e 2017, no Brasil.

A pesquisa, coordenada por Nuno Miguel Sampaio Osório, da Universidade do Minho, em Portugal, mostra que a prevalĂȘncia da K65R era de 2,23%, em 2008, e chegou a 12,11% em 2017. "Esse tratamento que o Brasil estĂĄ adotando como padrão para começar a tratar as pessoas jĂĄ tem 12% de resistĂȘncia, então vamos precisar rever isso", indica Souto. O estudo também mostrou maior carga viral nas pessoas em que a mutação foi encontrada, o que reforça a observação da elevação da prevalĂȘncia de resistĂȘncia ao TDF.

No perĂ­odo estudado, houve mudança nos protocolos antirretrovirais no Brasil, substituindo o Zidovudina pelo Tenofovir, o que pode ter contribuĂ­do para a prevalĂȘncia da mutação. Os pesquisadores apontam que esses aspectos podem explicar a maior proporção de casos de falĂȘncia terapĂȘutica, especialmente em um cenĂĄrio de aumento dos nĂșmeros de novas infecções e mortes relacionadas ao vĂ­rus HIV, enquanto hĂĄ queda no mundo. Foram 48 mil novas infecções, em 2019, e 14 mil mortes registradas no paĂ­s.

Para impedir que isso ocorra, os pesquisadores defendem a genotipagem universal, em que todos os casos diagnosticados são avaliados geneticamente para definir o melhor tratamento. Atualmente, em geral, a genotipagem só é feita após verificação de falha terapĂȘutica por seis meses. Em apenas alguns casos é feita previamente: "se for mulher grĂĄvida, se for uma pessoa que é parceira sexual de alguém que jĂĄ faz tratamento hĂĄ muito tempo, se for pessoa com tuberculose", elenca o pesquisador.

O trabalho analisou ainda respostas imunológicas ao HIV. As anĂĄlises sugerem que a presença da mutação K65R pode contribuir para o controle imunológico do vĂ­rus em indivĂ­duos portadores do perfil genético HLA-B27. Isso poderia diminuir a transmissão do vĂ­rus em populações com alta prevalĂȘncia deste HLA. No Brasil, no entanto, a prevalĂȘncia desse perfil é baixa.

Também hĂĄ indĂ­cios de que este HLA pode colaborar para evitar a mutação K65R que confere resistĂȘncia ao Tenofovir. Isso pode ter contribuĂ­do para a expansão dessa mutação no Brasil. "É mais uma razão para que a gente jĂĄ comece o tratamento com coquetéis de alta eficĂĄcia, e eu vou identificar esses coquetéis através da genotipagem do HIV que a pessoa tem", explica o pesquisador.

Como funciona o vĂ­rus

Souto explica que a mutação K65R preocupa especialmente por ser resistente ao TDF, mas existem vĂĄrias outras mudanças genéticas do vĂ­rus HIV. "É o mecanismo adaptativo do vĂ­rus, então geralmente o que acontece: a gente dĂĄ o medicamento e alguns filhotes do vĂ­rus, no processo de reprodução viral, eles produzem algumas mutações genéticas que conferem ao vĂ­rus capacidade de resistir ao efeito do medicamento", explica.

Ao fazer genotipagem, é possĂ­vel definir um coquetel que impeça a reprodução do vĂ­rus e evite a mutação. "Eu jĂĄ escolho um coquetel que consegue driblar essas mutações e atacar o vĂ­rus. Se eu não tenho essa informação, eu dou um coquetel e se o vĂ­rus jĂĄ é resistente, ele não vai ser eficaz, a pessoa não vai se beneficiar do tratamento e ainda vai transmitir o vĂ­rus resistente", aponta o pesquisador brasileiro.

Souto avalia que hĂĄ infraestrutura para realização da genotipagem do HIV, mas que o maior problema seria a logĂ­stica. "Do ponto de vista de laboratório e de outras coisas, nós temos isso em quantidade suficiente, o que precisamos é traçar uma estratégia logĂ­stica que garanta que todas as pessoas que precisarem desse exame tenham acesso ao resultado do exame em curto prazo", aponta.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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