PREFEITURA SANTANA

Escolas pĂșblicas do Rio recebem oficina sobre deslizamento de encostas

Aulas fazem parte do projeto Encosta Viva, da UFRJ

Por Redação em 24/10/2021 às 22:51:00

É com areia, barro, brita e ĂĄgua que integrantes do projeto Encosta Viva mostram a estudantes de escolas pĂșblicas como ocorre um deslizamento de terra. Na maquete colocada diante da turma de 8Âș ano da Escola Municipal Reverendo Martin Luther King, na Praça da Bandeira, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, na Ășltima quinta-feira (21), bastou aumentar a inclinação da encosta e adicionar ĂĄgua que logo pequenas casas se deslocaram ladeira abaixo. A forma de ensinar é lĂșdica, mas o tema é de extrema importância e gravidade.

Saber os motivos desses desastres, as formas de evitĂĄ-los e as ferramentas de alerta que existem no municĂ­pio pode ajudar a salvar vidas. É com esse objetivo que professores e estudantes universitĂĄrios realizam, em outubro e novembro, a oficina Um dia a terra cai. Financiadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento CientĂ­fico e Tecnológico (CNPq), as aulas fazem parte do projeto de extensão Encosta Viva, vinculado à Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Oficina sobre deslizamentos de terra para alunos de escolas municipais
Oficina sobre deslizamentos de terra para alunos de escolas municipais - Fernando Frazão/AgĂȘncia Brasil

"VocĂȘs sabem o que é um desastre?". Quem faz a pergunta é a estudante de engenharia mecânica da UFRJ Isabela Cardoso, 21 anos, logo no inĂ­cio da oficina. Isabela entrou no Encosta Viva por se identificar com a situação. Ela mora em local de risco de deslizamento no Rio, no morro do Salgueiro, no bairro da Tijuca, na Zona Norte da cidade.

"Eu vivo isso, eu vejo, sinto na pele como é ver um deslizamento. É algo muito triste. Saber que isso poderia ser evitado com conscientização, acho que faz muita diferença. A gente começa pela base, que são crianças, jovens e adolescentes, porque a maioria deles leva esse tema para casa, onde abordam e comentam o assunto", diz.

Mais da metade da ĂĄrea do estado do Rio de Janeiro tem suscetibilidade a deslizamentos classificada como muito alta, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e EstatĂ­stica (IBGE). Estudo divulgado em 2019, mostra que 53,9% do território fluminense estĂĄ no nĂ­vel mĂĄximo de risco. Outros 19,9% estão classificados como alta suscetibilidade, a segunda faixa mais elevada. O estado é o lĂ­der absoluto entre as unidades da federação em termos de ĂĄreas com maior suscetibilidade. O estado vizinho, EspĂ­rito Santo, aparece em segundo lugar, com 44,9% do território com suscetibilidade muito alta e 19,9%, alta.

Escolas pĂșblicas

Oficina sobre deslizamentos de terra para alunos de escolas municipais
Oficina sobre deslizamentos de terra para alunos de escolas municipais - Fernando Frazão/AgĂȘncia Brasil

"A oficina conta com maquetes e objetos para trazer experiĂȘncia lĂșdica para os alunos e buscar essa interação com eles. Foram escolhidas escolas próximas a morros, onde alguns dos alunos moram. Não necessariamente eles vivenciam deslizamentos, mas moram em comunidades que sofrem problemas de deslizamento", diz o professor da Escola Politécnica da UFRJ e coordenador do projeto, Marcos Barreto de Mendonça.

As escolas municipais Reverendo Martin Luther King, onde a oficina ocorreu na Ășltima semana, e Thomas Mann, no Cachambi, onde ocorrem na próxima semana, ambas na Zona Norte do Rio, são as primeiras unidades escolares a receberem atividade educativa sobre desastres associados a deslizamentos voltada para estudantes do ensino fundamental. A intenção é que o projeto siga no ano que vem e que envolva também agentes pĂșblicos que lidam diretamente com a questão dos deslizamentos.

Além de abordar os motivos dos deslizamentos, entre eles, escavações, acĂșmulo de lixo e desmatamento, a oficina mostra os mecanismos de alerta existentes e os canais de assistĂȘncia. "Hoje tem alarme pela cidade inteira. O sistema é aplicado no mundo inteiro. Isso é uma medida emergencial. É importante entender o que é esse sistema de alerta e conhecer o alarme de forma que o morador participe de ações previstas", explica Mendonça.

Na turma do 8Âș ano, a maior parte dos alunos nunca ouviu uma sirene de alerta. E mesmo quem ouviu, às vezes, não a levou à sério. "Eu, por experiĂȘncia própria, às vezes não acreditava. Ouvia a sirene tocando e via que a terra não deslizava. Que bom que não deslizou. A sirene estĂĄ alertando que hĂĄ risco de deslizamento, não quer dizer que vĂĄ deslizar. Mas vocĂȘ deve se ligar nos alertas, nas sirenes, [conhecer] os pontos de apoio", diz Isabela.

A estudante Ester Carvalho, 13 anos, que participou da aula, decorou as orientações. "A minha casa não tem risco de deslizamento, mas eu pude aprender muito, posso informar um familiar meu ou quem mora perto disso: "olha, quando tocar a sirene, fique ligado, procure um lugar seguro", e, assim, proteger eles", diz

Intercâmbio de conhecimento

Oficina sobre deslizamentos de terra para alunos de escolas municipais
Oficina sobre deslizamentos de terra para alunos de escolas municipais - Fernando Frazão/AgĂȘncia Brasil

Segundo a diretora adjunta da Martin Luther King, Priscila Maria Conceição Costa, para a escola, é importante o contato e intercâmbio com universidades. Além disso, o tema é de interesse da instituição. "Se tratando de uma escola pĂșblica, isso é mais importante ainda porque esse projeto sobre deslizamento em encostas atinge principalmente o nosso pĂșblico de escola pĂșblica, morador de comunidade, das favelas, do entorno e que moram em morro e que sofrem com essas catĂĄstrofes todos os anos. Veem deslizamento de casa, mortes de famĂ­lias".

As aulas também discutem a ocupação desordenada da cidade e a necessidade de polĂ­ticas pĂșblicas voltadas para a moradia, uma vez que a construção de casa em morros estĂĄ, muitas vezes, associada a causas de deslizamentos. "As pessoas fazem isso porque não tĂȘm alternativa de casa", diz a estudante Evelyn Medeiros, 15 anos. "É uma coisa muito séria. Principalmente agora, com a pandemia, as pessoas estão perdendo dinheiro e veem isso como alternativa fĂĄcil e barata e não é. Tem risco de morte. São vidas".

Isabela reforça: "Não é uma situação que nós escolhemos: viver em uma ĂĄrea de risco. TĂȘm pessoas que não tĂȘm para onde ir, então, é compreensĂ­vel que a gente leve essa conscientização para as escolas, para adolescentes e jovens, mas também esse engajamento para eles batalharam e não desistirem. A conscientização que podem ter coisa melhor, podemos ter coisa melhor, me sinto incluĂ­da nesse projeto me sinto incluĂ­da em todas as ĂĄreas".

Orientações

Além das sirenes, hĂĄ os pontos de apoio, para onde a população deve ir em caso de risco de deslizamento - geralmente, associações de moradores, escolas e outros espaços devidamente identificados. O Rio de Janeiro conta com o Sistema Alerta Rio da prefeitura, que emite mensagens e boletins de alerta à população sempre que hĂĄ previsão de chuvas intensas que possam gerar inundações de vias pĂșblicas e/ou acidentes geotécnicos em encostas. Em caso de desastres desse tipo, é preciso acionar a Defesa Civil pelo nĂșmero 199.

Edição: LĂ­lian Beraldo

Fonte: AgĂȘncia Brasil

Comunicar erro

ComentĂĄrios

DETRAN AL