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Vacinas salvam cerca de três milhões de vidas por ano, mas a recusa preocupa autoridades

Vacinas são as responsáveis por evitar a disseminação de doenças infectocontagiosas

Por Redação em 29/04/2022 às 20:42:05
Olival Santos e Divulgação

Olival Santos e Divulgação

Alagoas iniciou a Campanha de Vacinação contra Influenza e Sarampo no início deste mês para os grupos prioritários, estabelecidos pelo Ministério da Saúde (MS), e o Dia D de vacinação ocorre neste sábado (30). A Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) aproveita, então, para reiterar a importância da vacina, invenção que salvou mais vidas humanas do que qualquer outra tecnologia médica na história do planeta.

De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgados em 2019 na lista das 10 principais ameaças à saúde, a vacina salva, em média, três milhões de vidas humanas por ano. Apesar disso, ainda há recusa da vacinação e, como consequência, em 2019 os casos de sarampo triplicaram no mundo, em relação ao ano anterior. Esse aumento ainda provoca alerta no Brasil, porque o sarampo possui a maior taxa de transmissão entre as doenças virais.

Infectologista Sarah Dominique diz que recusa de qualquer vacina é motivo de preocupação para as autoridades sanitárias


A médica infectologista da Sesau, Sarah Dominique Delabianca, afirma que a recusa de qualquer vacina é motivo de grande preocupação. "Difícil imaginar o mundo contemporâneo sem uma estratégia de vacinação, porque esta é uma medida simples, eficaz e possível de ser disseminada em todo o mundo, se houver incentivo aos países menos favorecidos", esclarece.

Ela lembrou, ainda, que para cada vacina existe evidência científica quanto à eficácia, ao aparecimento de sintomas e à possibilidade de óbito após a vacinação. "Nunca se viu tanta falta de coerência mediante ações da medicina que gere impacto negativo como as fake News. Com certeza elas são uma ameaça grave, pois causam insegurança, descrença em ações públicas, como a vacinação, que está há décadas conferindo proteção individual e coletiva na sociedade", concluiu a médica.

O Brasil recebeu o certificado de país livre do sarampo em 2016, pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), mas perdeu o título em 2019, depois da confirmação de um caso no Estado do Pará, devido à recusa da vacina. Diante disso, o secretário de Estado da Saúde, André Cabral, apela para que todos se vacinem.

"Por isso eu peço para que os cidadãos alagoanos mantenham todo o esquema vacinal em dia, incluindo a vacina do sarampo e da Influenza, que já foi uma pandemia antes de ser superada graças à vacinação. A vacina é a nossa única saída para mais de 20 patologias", disse o gestor.

São disponibilizadas, no Brasil, 20 tipos de vacinas humanas nas salas de vacinação do Sistema Único de Saúde (SUS). Algumas delas protegem contra mais de um patógeno ao mesmo tempo, como é o caso da pentavalente (difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e haemophilus influenzae tipo b) e a tetra viral (sarampo, caxumba e rubéola e varicela), por exemplo. As vacinas são aplicadas desde o nascimento até o fim da vida, já que a vacina contra o vírus da Influenza, por exemplo, é anual.

A aposentada Nilva Guimarães e o marido, Manoel Rolnar, mantém a caderneta de vacinação atualizada e são defensores da vacina

Dona Nilva Guimarães Silva, de 82 anos, natural da cidade de Capela, em Alagoas, e seu Manoel Rolnar Silva, natural de município do mesmo nome, no Estado de Sergipe, dividem a vida com amor, respeito, filhos, netos, bisnetos e a consciência sobre a importância da vacinação.
"Eu me chamo Manoel, mas pode me chamar de Bicho Bravo, viu? Eu tenho 85 anos bem vividos e nunca deixei de me vacinar. Eu e ela nos vacinamos juntos e felizes da vida, assim a vida inteira", afirmou seu Manoel. "Eu estou com as vacinas todas em dia. E eu me vacino porque, além de ser importante para mim, é importante para o próximo", concluiu dona Nilva.

Como surgiu a vacina – A História da vacinação é longa. Começou em meados do século XV e não parou mais. Até hoje farmacêuticos, biomédicos, médicos imunologistas e engenheiros químicos trabalham incessantemente para desenvolver e aprimorar vacinas que são aplicadas no mundo inteiro.

– Séculos XV a XVIII: primeiras tentativas documentadas
A varíola foi motivo de preocupação na saúde pública do século X ao XX. Apenas em 1980 a OMS reconheceu a erradicação mundial desta enfermidade, que só no século XX matou mais de 300 milhões de pessoas.

A partir do século XV, pessoas em partes diferentes do mundo tentavam encontrar a prevenção à varíola expondo intencionalmente pessoas saudáveis à varíola, uma prática conhecida como variolação. Apesar de documentado a partir do século XV, algumas fontes sugerem que esse costume já existia desde 200 a.C.

Foto de 1901 mostra duas crianças; a da esquerda não era vacinada e contraiu varíola e a da direita recebeu a vacina contra a mesma doença e não adoeceu

– Segunda metade do Século XVIII: vacina contra a varíola
Em 1774, um agricultor inglês chamado Benjamin Jesty faz uma descoberta importante. Ele testou a hipótese de que a infecção por varíola bovina (um vírus bovino que pode ser transmitido a pessoas) poderia proteger as pessoas da varíola humana.

Em maio de 1796, o médico inglês Edward Jenner expande essa descoberta e contamina James Phipps, de apenas oito anos, com matéria coletada de uma ferida de varíola bovina. Apesar de sofrer uma reação local e se sentir mal por vários dias, Phipps se recuperou completamente. Aqui, Jenner dava início à invenção da vacinação.

Posteriormente, em julho de 1796, Jenner contamina Phipps com matéria de uma ferida de varíola humana para testar a resistência dele. Phipps permanece perfeitamente saudável e se torna a primeira pessoa vacinada contra a varíola. O termo "vacina" foi cunhado posteriormente, com base na palavra latina "vacca", que significa vaca.

Posteriormente, a grande descoberta foi reconhecida e espalhou-se pelo mundo. Em 1799, foi criado o primeiro instituto vacínico em Londres e, em 1800, a Marinha britânica começou a adotar a vacinação contra a varíola.

Louis Pasteur, em 1886, segura um frasco contendo a medula espinhal de um coelho infectado com o vírus da raiva

– Século XIX: raiva e difteria

Em 1885, Louis Pasteur, cientista francês previne a raiva por meio da vacinação pós-exposição. O tratamento é controverso: antes disso, Pasteur havia tentado usar a vacina em humanos duas vezes sem sucesso.

Apesar do risco, ele iniciou um ciclo de 13 injeções no paciente Joseph Meister, cada uma com uma dose mais forte do vírus da raiva. Meister sobrevive. Atualmente a vacina contra a raiva é aplicada em humanos logo após mordida de cão e gato.

Em 1894, a patologista americana Anna Wessels Williams, isola uma cepa da bactéria da difteria, que foi fundamental no desenvolvimento de uma antitoxina para a doença.

Hoje, a vacina que previne contra a difteria é a Pentavalente, que previne também contra o tétano, coqueluche, hepatite B e contra a bactéria haemophilus influenzae tipo B.

Thomas Francis Jr. e Jonas Salk na reunião de avaliação da pólio em 1955

– Século XX: influenza, poliomielite, febre amarela, hepatite B, coqueluche e HPV
O século XX foi determinante no desenvolvimento de muitas vacinas ao redor do mundo: de 1918 a 1919, a pandemia de gripe espanhola (uma das influenzas) matou cerca de 20 a 50 milhões de pessoas em todo o mundo, incluindo 1 em cada 67 soldados dos Estados Unidos da América (EUA), o que tornou a vacina contra a gripe uma prioridade militar dos EUA.

Os esforços estadunidenses para a produção da vacina contra a influenza foram grandes e a primeira vacina antigripe foi aprovada em 1945. A pesquisa foi liderada pelos médicos Thomas Francis Jr. e Jonas Salk, ambos também associados posteriormente à vacina contra a poliomielite, que foi desenvolvida em 1955.

Em 1937, Max Theiler, Hugh Smith e Eugen Haagen desenvolvem, na Fundação Norte Americana Rockefeller, a vacina 17D contra a febre amarela. O inoculante é aprovado em 1938 e mais de um milhão de pessoas o recebem nesse mesmo ano. Theiler recebe o Prêmio Nobel.

Em 1939, os bacteriologistas americanos Pearl Kendrick e Grace Eldering demonstraram a eficácia da vacina contra coqueluche. Os cientistas mostram que a vacinação reduz as taxas de adoecimento infantil de 15,1 para 2,3 a cada 100 crianças. No Brasil a imunização contra coqueluche é possível com a vacina tríplice bacteriana.

Em 1960, um segundo tipo de vacina contra a poliomielite desenvolvido por Albert Sabin é aprovado para uso. A vacina de Sabin usava uma forma enfraquecida do vírus e podia ser administrada por via oral, em gotas ou cubos de açúcar. A vacina oral contra a poliomielite (OPV) foi testada e produzida pela primeira vez na União Soviética e na Europa Oriental. A Tchecoslováquia se torna o primeiro país do mundo a eliminar a pólio.

Em 1969, quatro anos após o microbiologista Baruch Blumberg descobrir o vírus da hepatite B, ele trabalha com o também microbiologista Irving Millman para desenvolver a primeira vacina contra a hepatite B, usando uma forma do vírus tratada termicamente.

Uma vacina inativada derivada de plasma é aprovada para uso comercial de 1981 a 1990, e uma vacina geneticamente modificada (ou de DNA recombinante) desenvolvida em 1986 ainda está em uso atualmente.

Em 1978, uma vacina polissacarídica que protege contra 14 cepas diferentes de pneumonia pneumocócica é licenciada. Em 1983, ela é ampliada para proteger contra 23 cepas.

Em 1985, é licenciada a primeira vacina contra doenças causadas pelo Haemophilus influenzae tipo b (Hib), após David H. Smith fundar uma empresa para produzi-la. Smith e Porter W. Anderson Jr. estavam trabalhando juntos em uma vacina desde 1968. Esta vacina é aplicada na pentavalente no Brasil.

Em 1995, Anne Szarewski lidera uma equipe que descreve o papel do papilomavírus humano (HPV) na detecção e rastreamento do câncer do colo do útero, e os pesquisadores começam a trabalhar em uma vacina contra o HPV.

Em 2019, a implementação piloto da vacina contra a malária é lançada em Gana, Malawi e Quênia. A vacina RTS/S é a primeira que pode reduzir significativamente a cepa de malária mais mortal e prevalente em crianças pequenas, o grupo com maior risco de morte pela doença.

A OMS pré-qualificou uma vacina contra o Ebola para uso em países de alto risco como parte de um conjunto amplo de ferramentas de combate à doença. Em 2021, um estoque global de vacinas é criado para o combate a surtos.

Em 30 de janeiro de 2020, o Diretor Geral da OMS declara o surto do novo coronavírus (SARS-CoV-2) como uma Emergência de Saúde Pública de Interesse Internacional. Em 11 de março, a OMS confirma que a COVID-19 é uma pandemia.

Polonês Albert Bruce Sabin, criador da vacina contra a Poliomielite, durante campanha no Brasil

– Enquanto isso no Brasil…
No Brasil, o uso de vacina contra a varíola foi declarado obrigatório para crianças em 1837 e para adultos em 1846. Mas essa resolução não era cumprida, até porque a produção da vacina em escala industrial no Rio só começou em 1884.

Em 1903, o diretor-geral de saúde pública do Brasil, Oswaldo Cruz, estruturou a campanha contra a febre amarela. Em seguida, ele iniciou sua luta contra a peste bubônica. E, no ano seguinte, em 1904, a vacinação e revacinação contra a varíola virou obrigatória, mas o processo gerou um movimento popular conhecido como Revolta da Vacina.

Em 1908, um novo surto de varíola e o reconhecimento internacional de Oswaldo Cruz fez a população aderir em massa à vacinação. Nas décadas seguintes, a ciência evoluiu consideravelmente e a população, por sua vez, passou a assimilar a importância das campanhas vacinais.

Em 1961, foi realizada a primeira campanha de vacina contra a poliomielite no Brasil. No mesmo ano, o Instituto Oswaldo Cruz iniciou a técnica de diagnóstico laboratorial da doença.

O Brasil criou, em 1971, o Plano Nacional de Controle da Poliomielite. Em 1975, realizou a Campanha Nacional Contra a Meningite Meningocócica e, em 1977, criou a caderneta de vacinação, mesmo ano em que o mundo viu os últimos casos de varíola. Foi também em 1977 que o Brasil definiu as vacinas obrigatórias para menores de um ano.

Em 1986, nasceu o personagem Zé Gotinha, um símbolo da vacinação infantil e incentivo para as crianças irem acompanhadas pelos pais aos postos de vacinação. Por fim, em 1989, a poliomielite tornou-se uma doença eliminada pela vacina no Brasil.

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