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SaĂșde: pesquisa e uso da cannabis avançaram no Brasil nos Ășltimos anos

Segundo o neurocientista Sidarta Ribeiro, que Ă© professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o avanço acompanha a tendĂȘncia mundial de regulamentação de medicamentos feitos à base da planta, popularmente conhecida como maconha

Por Redação em 10/07/2022 às 22:24:46

Nos Ășltimos 10 anos, as pesquisas e o uso legal de cannabis medicinal aumentaram muito no Brasil. Segundo o neurocientista Sidarta Ribeiro, que é professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o avanço acompanha a tendĂȘncia mundial de regulamentação de medicamentos feitos à base da planta, popularmente conhecida como maconha.

"Isso acontece muito pela ação de familiares de pacientes, de pacientes organizados em associações, isso estĂĄ crescendo muito. São dezenas de milhares de pessoas que fazem tratamento medicinal com cannabis, isso não existia hĂĄ 10 anos atrĂĄs. Tem um monte de gente que tem autorização para importar, que consegue comprar na farmĂĄcia, embora seja carĂ­ssimo."

Ele participou do seminĂĄrio internacional Cannabis amanhã: um olhar para o futuro, que ocorreu ontem (9) e hoje (10) no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM), promovido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pela Associação de Apoio à Pesquisa e Pacientes de Cannabis Medicinal (Apepi).

Tradição e proibição

Para o professor, a proibição da cannabis no Brasil não cumpriu o que prometeu - diminuir o uso recreativo da substância e a violĂȘncia envolvida no mercado ilegal da planta - e isso estĂĄ sendo percebido pela população.

"As pessoas estão se conscientizando de que foram enganadas, de que muita injustiça foi cometida em nome dessa guerra contra a maconha e que, na verdade, se elas precisam, ou se algum familiar, algum amigo precisa dessa substância para lidar com situações de vida ou morte, elas são capazes de romper as amarras desse difamação que a maconha sofreu por muitas décadas."

Também palestrante no evento, o lĂ­der indigenista e ambientalista Ailton Krenak lembra que a cannabis foi introduzida no Brasil pelos povos africanos e, depois incorporada aos rituais de alguns povos indĂ­genas hĂĄ 300 anos.

"A gente não pode naturalizar a ideia de que a cannabis integra o repertório de conhecimento dos povos originĂĄrios daqui da América do Sul. Ela não é nativa daqui, ela veio para cĂĄ com os povos que vieram da África, né? Tem gente que acha que ela entrou pelo Caribe, pela América Central, tem outros historiadores que dizem que os povos que vieram do Benim, da África, levaram ela para o Maranhão e daĂ­ ela entrou na Amazônia."

Krenak destaca a importância das plantas medicinais no saber tradicional dos povos originĂĄrios, muitas cantadas em rituais tradicionais e outras integrantes de mitos fundadores desses povos.

"O uso medicinal e o uso ritualĂ­stico, ele foi integrado a outras prĂĄticas, assim como a jurema. A jurema é daqui, é nativa, os povos indĂ­genas do Nordeste tĂȘm os rituais da jurema e assimilaram essa planta que veio da África como uma planta que é parente da jurema".

Associação

A advogada Margarete Brito, fundadora e diretora da Apepi, explica que a associação foi criada em 2014 para ajudar familiares e pacientes que viram na cannabis medicinal uma grande melhora na qualidade de vida de pessoas com doenças rara e neurológicas, como epilepsia. A famĂ­lia dela foi a primeira a conseguir autorização judicial para plantar a maconha e extrair o óleo medicinal em casa e, depois disso, criou a Apepi para ajudar outros pacientes. Atualmente, a associação fornece o óleo para quase 4 mil pacientes.

Este é o terceiro evento que a associação promove em parceria com a Fiocruz, sendo o primeiro em 2018. De acordo com Brito, os palestrantes apresentaram muitos avanços nas pesquisas, esclarecimento médico e no uso da cannabis medicinal no paĂ­s.

"Até por relato de participantes, médicos, pesquisadores que estão nessa edição, dizendo o quanto o debate avançou. As associações jĂĄ estão conseguindo plantar e abrir espaço para pesquisa. Hoje, a Apepi tem parceria com a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e com a Unicamp, que faz a dosagem de todos os óleos. No Ășltimo seminĂĄrio, em 2019, isso nem existia."

Ela destaca a importância de se amadurecer o debate em torno da maconha medicinal, até para baratear o acesso aos medicamentos, ainda muito caros. Para a advogada, o preço pode baixar com a aprovação do Projeto de Lei (PL) 399/15, que regulamenta o plantio de Cannabis sativa para fins medicinais e a comercialização de medicamentos que contenham extratos, substratos ou partes da planta. O PL foi aprovado na comissão especial da Câmara dos Deputados no mĂȘs passado, mas que teve o trâmite novamente interrompido.

"Ainda é muito caro. Além de melhorar o acesso, vocĂȘ gera riqueza para o paĂ­s, né? Porque hoje existem inĂșmeras pessoas que ainda usam o produto que vem lĂĄ de fora, pagando em dólar. Como o Sidarta diz, é igual vocĂȘ importar mandioca para fazer farinha."

Pesquisa

O médico sanitarista e assessor de relações institucionais da Fiocruz, Valcler Rangel, explica que a Fiocruz pretende implantar ações para induzir a pesquisa na ĂĄrea, com o objetivo de possibilitar o uso da cannabis medicinal como um recurso para a saĂșde pĂșblica.

"A gente estĂĄ formulando uma proposta de indução de pesquisas e estudos amplos nessa ĂĄrea, estudos interdisciplinares, pegando no campo biológico, dos estudos clĂ­nicos e também das ciĂȘncias sociais. A ideia é induzir estudos voltados para essa questão do uso medicinal da cannabis, com a constituição de plataformas de anĂĄlise e a criação de um grupo de trabalho permanente com o pessoal das universidades e da sociedade civil, que trabalhe uma agenda combinada das instituições para esse enfrentamento das dificuldades do uso da cannabis".

Um estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostrou que canabinoides são eficazes no tratamento de doenças neurológicas.

Estudos indicam parkinson, glaucoma, depressão, autismo e epilepsia. Além disso, hĂĄ evidĂȘncias da eficĂĄcia dos canabinoides contra dores crônicas, em efeitos antitumorais e também contra enjoos causados pela quimioterapia, além da aplicação no tratamento da espasticidade causada pela esclerose mĂșltipla.

Os canabinoides também demonstraram evidĂȘncias de que são efetivos para o tratamento da fibromialgia, distĂșrbios do sono, aumento do apetite e diminuição da perda de peso em pacientes com HIV; melhora nos sintomas de sĂ­ndrome de Tourette, ansiedade e para a melhora nos sintomas de transtornos pós-traumĂĄticos.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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