Com 28 empresas residentes de pequeno, médio e grande porte, o Parque Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) se prepara para implementar, a partir deste ano, mais cinco unidades de pesquisa. Elas se somarão às cerca de 34 jĂĄ existentes, envolvendo seis laboratórios próprios da instituição e outros de empresas privadas.
O diretor executivo, Vicente Ferreira, disse que, os 20 anos de existĂȘncia do Parque, comemorados neste ano, registram nĂșmeros que constituem bom exemplo de polĂtica pĂșblica. O parque custou, em termos de investimento pĂșblico, R$ 30 milhões. As empresas privadas investiram na construção de seus centros de pesquisa cerca de R$ 1 bilhão. Nos anos de operação das empresas no parque, foram feitos investimentos adicionais de R$ 250 milhões em projetos de pesquisa com a universidade. "Acho que esses são nĂșmeros tremendamente expressivos quando a gente fala de investimento pĂșblico fomentando investimento privado", disse Ferreira em entrevista à AgĂȘncia Brasil.
As ĂĄreas de atuação do Parque da UFRJ incluem óleo e gĂĄs, energia, biotecnologia, inteligĂȘncia artificial, indĂșstrias de transformação, informação e comunicação, indĂșstrias extrativas, construção, educação, saĂșde, cidades inteligentes, entre outras ĂĄreas. O objetivo é fazer a conexão entre o conhecimento acadĂȘmico e as empresas, para incentivar a inovação no paĂs. "Inovação e tecnologia são os dois carros-chefe", disse Ferreira. Só no ano passado, foram investidos R$ 6 milhões em cooperação universidade/empresa, resultando em 113 pedidos de patentes. O nĂșmero de pedidos de patentes feito ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) alcança 371, de 2017 até hoje.
No caso do Parque da UFRJ, Vicente Ferreira explicou que o foco são as deep tech (startups e ecossistemas que abraçam tecnologias complexas ou resolução de problemas de alto impacto) e não ep tech (empresa responsĂĄvel por desenvolver softwares, ou programas de computador, para solucionar problemas operacionalmente complexos). "O nosso negócio não é ep. É molécula, como eu gosto de dizer, porque, na verdade, tem impacto na cadeia produtiva muito mais profundo, jĂĄ que são inovações que, certamente, chegam para o bem-estar da população, com impacto muito maior e tempo de permanĂȘncia também maior". São processos de desenvolvimento muito mais arriscados e demorados.
O diretor destacou que a UFRJ tem em torno de 1.450 laboratórios nas ĂĄreas de engenharia, ciĂȘncia da saĂșde, pesquisa bĂĄsica. Acrescentou que, ainda neste ano, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), parceira da UFRJ, deverĂĄ consolidar um centro de tecnologia dentro do Parque. A ideia é que ele seja, na verdade, uma fĂĄbrica de tecnologias para fazer princĂpios ativos, um scale up para produção em escala industrial, com atenção especial para as chamadas doenças negligenciadas, causadas por agentes infecciosos ou parasitas e consideradas endĂȘmicas em populações de baixa renda. São doenças negligenciadas a hansenĂase, dengue, leishmaniose, esquistossomose, raiva humana transmitida por cães, escabiose (sarna), doença de Chagas, parasitoses intestinais e tracoma.
O Parque espera iniciar a implementação de mais trĂȘs unidades de pesquisa ainda este ano. Uma delas serĂĄ patrocinada pela Petrogal, empresa do setor de petróleo de Portugal, focada em descarbonização. O acordo jĂĄ foi assinado e a expectativa é que as obras comecem no segundo semestre. Outro laboratório é patrocinado pela Shell e vai operar na ĂĄrea de biossintéticos. "O laboratório vai ser, de certa forma, compartilhado com o Ecossistema de Inovação da UFRJ. É algo que a gente buscava ter no Rio de Janeiro hĂĄ muito tempo".
É esperado também para 2023 o inĂcio da implementação do Centro de ExcelĂȘncia em Fertilizantes. "É um sonho muito antigo, principalmente dos colegas da Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuĂĄria (Embrapa)". Vicente Ferreira destacou que o Plano Nacional de Fertilizantes prevĂȘ, entre outras coisas, a criação de uma rede de centros de excelĂȘncia em fertilizantes e, também, um centro de excelĂȘncia principal como hub (concentrador) dessa rede e que funcione como uma fĂĄbrica de startups (empresas nascentes) voltadas para a tecnologia do agronegócio.
O Brasil importa a maior parte dos fertilizantes usados na agricultura. O diretor acredita que os centros de excelĂȘncia de fertilizantes trarão impacto enorme na cadeia produtiva do agronegócio. O projeto envolve os governos federal e estadual e a iniciativa privada. "A ideia é ter projetos de desenvolvimento tecnológico gerados pelos diferentes centros e que venham para o centro de excelĂȘncia do Parque jĂĄ com demanda da iniciativa privada para serem desenvolvidos aqui".
Uma quinta unidade, proposta pela Faculdade de Administração e CiĂȘncias ContĂĄbeis, é uma incubadora para empresas de impacto social e ambiental, que deverĂĄ estar implementada nas dependĂȘncias do Parque até o inĂcio das aulas do segundo semestre. A UFRJ jĂĄ tem duas incubadoras. Uma pertence ao Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ), para empresas de base tecnológica; outra é a Incubadora de Empreendimentos Tecnológicos (Crios), da UFRJ Macaé.
A solenidade de abertura das comemorações dos 20 Anos do Parque Tecnológico da UFRJ serĂĄ realizada hoje (4). Todas as atividades do Parque 20 Anos serão realizadas na Inovateca, espaço fĂsico e virtual para compartilhar conteĂșdo, conexões e experimentação localizado dentro do Parque, na Cidade UniversitĂĄria. Em formato de Cubo MĂĄgico, a Inovateca tem ĂĄrea construĂda de 2.730 metros quadrados e ambientes projetados para estimular a criatividade, a troca de conhecimento e a inovação. Todas as atividades contarão também com transmissão ao vivo pelo YouTube.
A programação vai durar o ano inteiro. Ela visa promover o debate sobre inovação e tecnologia com a sociedade e terĂĄ palestras, encontros e oficinas sobre temas como engenharia, biotecnologia, sustentabilidade, indĂșstria 4.0, cidades inteligentes, mobilidade, produção automotiva, óleo e gĂĄs, energia verde, construção civil, games, esportes, biotecnologia em saĂșde, tecnologia médico-hospitalar, sociedade 5.0 e ciĂȘncia no paĂs. HaverĂĄ ainda uma mostra de tecnologias da UFRJ e exposição de arte. O programa completo pode ser acessado neste link.
Edição: Graça Adjuto
Fonte: AgĂȘncia Brasil