A Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH) decidiu tornar permanente, e com vigĂȘncia durante todo o ano, a campanha de conscientização e combate às hepatites virais, que marca tradicionalmente o mĂȘs de julho. "Essa foi uma ideia que tivemos porque, se a gente se prende só a um mĂȘs, agosto começa e as pessoas acabam se esquecendo da importância do tema. Por isso, o nosso mote foi De Julho a Julho Amarelo. A cura começa com o teste para a campanha contra as hepatites virais", disse nesta terça-feira (4) à AgĂȘncia Brasil o presidente da SBH, Giovanni Faria Silva. A campanha é promovida em parceria com o Instituto Brasileiro de Figado (Ibrafig).
O titular da SBH considerou de grande importância a Lei 14.613, sancionada na segunda-feira (3) pelo presidente Luiz InĂĄcio Lula da Silva, que altera a Lei 13.802, de 10 de janeiro de 2019, que instituiu o Julho Amarelo, e estabelece um conjunto de atividades e mobilizações a serem desenvolvidas para combate às hepatites virais neste mĂȘs.
Na próxima semana, membros da SBH participarão, em BrasĂlia, de reuniões no Ministério da SaĂșde, com o objetivo de traçar metas e planos para estender pelo paĂs ações de diagnóstico, tratamento e combate às hepatites virais. Faria Silva disse que é interesse da SBH dar todo o apoio ao ministério, do ponto de vista de orientações sobre tratamento, inclusive no formato online, a médicos que não tĂȘm muita intimidade com as hepatites virais.
O Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais é celebrado em 28 de julho, dia do nascimento do cientista Baruch Blumberg, ganhador do PrĂȘmio Nobel, que descobriu o vĂrus da hepatite B, desenvolveu um teste de diagnóstico e a vacina para esse tipo de hepatite.
Na pĂĄgina da campanha da SBH, as pessoas podem obter informações e materiais como folhetos e cartilhas sobre a doença.
Entre as iniciativas previstas estĂĄ a iluminação de monumentos e prédios históricos na cor amarela, em todo o Brasil, como o Monumento das Bandeiras, em São Paulo, e o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. Outras ações serão realizadas para lembrar que toda pessoa acima de 4o anos de idade deve ser testada para hepatites virais. Na entrada de jogos de futebol, serão exibidas faixas alertando que as hepatites virais são doenças que podem atacar o fĂgado e provocar cirrose hepĂĄtica.
"Nós teremos vĂĄrias campanhas de testagem em inĂșmeras cidades do paĂs. Essas campanhas não acontecerão somente em julho, mas devem se perpetuar durante o ano", disse Faria Silva. O teste para hepatite C e B é feito com uma gota de sangue do dedo. "Juntamente com essas testagens, a gente vai alertar as pessoas sobre outras causas de doenças hepĂĄticas, como, por exemplo, a doença por virose do fĂgado", disse o presidente da SBH.
A entidade médica pretende também fazer micro eliminações em presĂdios, onde as taxas de infectados são grandes. A SBH jĂĄ estĂĄ atuando em alguns presĂdios, não só fazendo testagem, mas encaminhando as pessoas para tratamento, porque o preso, uma vez saindo da prisão, pode contaminar outras pessoas posteriormente. "São ações para evitar a progressão da doença e, também, a transmissão posteriormente".
Outro projeto da SBH é testar moradores de rua, porque muitos são portadores de vĂrus, mas desconhecem. Faria Silva disse que esse projeto é mais difĂcil. Mesmo assim, a sociedade, segundo ele, estĂĄ trabalhando junto com algumas organizações que tĂȘm moradores de rua cadastrados, o que permite fazer o diagnóstico e o tratamento da infecção pelo vĂrus. "É um tratamento muito fĂĄcil. Um comprimido por dia, sem efeitos colaterais, e atinge cura de 98% dos casos", informou o especialista.
O modelo adotado na capital paulista serĂĄ reproduzido para outras cidades do paĂs. "Nós vamos fazer um projeto-piloto. Porque não adianta só testar. Os moradores tĂȘm que ter acompanhamento posterior. VocĂȘ não vai conseguir eliminar o problema e evitar uma progressão da doença. Para isso, é importante que essas pessoas sejam cadastradas e rastreadas para que possa ser oferecido o tratamento, principalmente para aqueles vinculados a unidades que fornecem refeições ou um lugar para dormir, como abrigos".
A ideia é negociar com os administradores desses abrigos para que os moradores de rua infectados fiquem no local durante o perĂodo de tratamento, de oito a 12 semanas.
Hepatites virais são doenças com vĂrus que agridem o fĂgado. Os vĂrus que cronificam são só da hepatite B, C e D. Nessa cronificação, a doença evolui para a cirrose de forma assintomĂĄtica. "Por isso, é difĂcil ter diagnóstico precoce. Os sintomas aparecem quando a pessoa jĂĄ tem cirrose avançada. Pode ter até cirrose no inĂcio, mas não dĂĄ sintoma algum. Portanto, é fundamental que se faça diagnóstico precoce, testando, principalmente pessoas com fatores de risco", explica o médico.
Para a hepatite C, Faria Silva disse que os maiores fatores de risco são pessoas que receberam transmissão de sangue ou derivados do sangue antes de 1992; receberam transplante de algum órgão; usaram drogas injetĂĄveis ou seringas de vidro para tomar medicações lĂcitas, comuns antes do aparecimento do vĂrus HIV. Pessoas que habitam o mesmo ambiente tĂȘm um certo risco, embora não tão alto, advertiu o médico.
Para hepatite D, além de todos os fatores citados anteriormente, tem a transmissão sexual e a transmissão da mãe para o bebĂȘ, a chamada transmissão vertical. A Região Norte é onde é mais prevalente o vĂrus D da hepatite, em especial na Amazônia.
O tratamento da hepatite C é feito com um comprimido por dia, com término entre oito a 12 semanas e chance de cura de 98%. Para a hepatite B, o tratamento se prolonga durante toda a vida, embora em alguns casos a doença não comprometa o fĂgado. JĂĄ para a hepatite D, o tratamento é mais complexo, feito com medicação injetĂĄvel que pode apresentar efeitos colaterais. "É um vĂrus mais raro e necessita ter a presença do vĂrus B para infectar com o Delta", explicou o presidente da SBH.
De acordo com o Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais, divulgado em 2022 pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), foram notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da SaĂșde, 718.651 casos confirmados de hepatites virais no Brasil de 2000 a 2021.
Edição: Fernando Fraga
Fonte: AgĂȘncia Brasil