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PrevenĂ­vel por vacina, HPV Ă© a infecção mais associada ao câncer

Embora faça parte do PNI, cobertura de jovens estĂĄ aquĂ©m do ideal

Por Vinícius Lisboa - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro em 19/09/2023 às 09:36:01
© Marcelo Camargo/Agência Brasil

© Marcelo Camargo/Agência Brasil

A vacinação contra o PapilomavĂ­rus Humano (HPV) jĂĄ estĂĄ disponĂ­vel gratuitamente no Brasil desde 2014. No entanto, levar a proteção contra esse vĂ­rus a crianças e adolescentes tem sido um esforço com resultados muito aquém do necessĂĄrio.

Dados da Organização Pan-Americana da SaĂșde (Opas) mostram que em 2021 apenas 37% dos adolescentes do sexo masculino receberam essa vacina no paĂ­s, enquanto o Programa Nacional de Imunizações (PNI) tem como meta imunizar 80% desse pĂșblico alvo.

A importância da imunização contra esse vĂ­rus na adolescĂȘncia se deve ao fato de que parte de seus sorotipos é considerada altamente cancerĂ­gena, e a proteção da vacina é maior se realizada antes do inĂ­cio da vida sexual, jĂĄ que esse vĂ­rus é causador de infecções sexualmente transmissĂ­veis (IST). A vacina também é considerada a forma mais eficaz de prevenção, jĂĄ que o HPV pode ser transmitido em relações sexuais mesmo com o uso de preservativo.

A associação do HPV ao câncer supera a de outros agentes infecciosos conhecidos, como os vĂ­rus da Hepatite B e C, que podem causar câncer de fĂ­gado e leucemia; a bactéria Helicobacter pylori, associada a câncer de estômago, esôfago, fĂ­gado e pâncreas; e o vĂ­rus Epstein-Barr (EBV), cuja infecção pode evoluir para linfomas e carcinoma nasofarĂ­ngeo.

A prevenção contra o HPV se torna ainda mais importante pela sua grande circulação. Segundo o Instituto Nacional de Câncer, estudos indicam que 80% das mulheres sexualmente ativas serão infectadas por um ou mais tipos de HPV em algum momento de suas vidas, e essa porcentagem pode ser ainda maior em homens.

Estima-se que entre 25% e 50% da população feminina e 50% da população masculina mundial esteja infectada pelo HPV. A maioria dessas infecções, porém, é combatida espontaneamente pelo sistema imune, regredindo entre seis meses a dois anos após a exposição, principalmente entre as mulheres mais jovens.

Infecção mais cancerĂ­gena

A pesquisadora da Divisão de Detecção Precoce e Apoio à Organização de Rede (Didepre) do Instituto Nacional de Câncer (Inca), FlĂĄvia de Miranda CorrĂȘa, conta que o HPV é o agente infeccioso que tem mais associações ao câncer descritas pela medicina.

Na mulher, esse vĂ­rus é o principal causador do câncer de colo de Ăștero e também estĂĄ relacionado a câncer na vulva e vagina. No homem, cerca de metade das neoplasias no pĂȘnis partem de uma infecção pelo HPV. Além disso, em ambos, o câncer de ânus e de garganta (orofaringe), também entram na lista.

"O HPV é um vĂ­rus sexualmente transmissĂ­vel. Então, a transmissão se dĂĄ no contato da pele com a pele, mucosa com mucosa, pele com mucosa", explica a pesquisadora, que por isso afirma que a vacinação é a principal forma de proteção contra o vĂ­rus.

"A camisinha protege só o pĂȘnis. Ela não vai cobrir a bolsa escrotal, não vai cobrir o ânus, não vai impedir o contato da pele com a pele. E também não é comum que se use camisinha desde o inĂ­cio da relação sexual, em massagens, por exemplo. É claro que ela deve ser utilizada porque diminui a possibilidade de contĂĄgio, não só pelo HPV, mas por outras infecções. Mas ela não é garantia de que não vai haver infecção pelo HPV".

A vacina contra o HPV deve ser aplicada em meninos e meninas de 9 a 14 anos, em um esquema de duas doses. A segunda dose deve ser aplicada seis meses após a primeira. Essa vacina protege contra os vĂ­rus dos sorogrupos 6, 11, 16 e 18, sendo os dois Ășltimos os principais causadores de câncer.

"A vacinação antes da exposição ao vĂ­rus é a melhor maneira de evitar a infecção. A vacina é altamente eficaz e contém os vĂ­rus mais prevalentes", afirma ela, que reforça a necessidade da vacinação na idade recomendada pelo PNI:

"A vacina vai ser eficaz se a pessoa ainda não tiver tido contato com aqueles vĂ­rus presentes na vacina. Ela previne, ela não trata. Além disso, a resposta imunológica é melhor nos jovens, quanto mais cedo a vacinação for aplicada, eles desenvolvem uma resposta melhor".

arte vacina HPV

PaĂ­ses que iniciaram a vacinação contra o HPV hĂĄ mais tempo que o Brasil, como a AustrĂĄlia, jĂĄ tĂȘm evidĂȘncias de que a imunização reduziu a incidĂȘncia dos casos de verrugas, lesões precursoras e do próprio câncer. "Para a gente falta um pouco, até porque nossa cobertura não estĂĄ excelente", diz FlĂĄvia.

Oito em dez casos de câncer

O câncer cervical, associado ao HPV em mais de 80% dos casos, é uma das principais causas de mortes de mulheres, segundo a Organização Pan-Americana de SaĂșde. Sete em cada 10 casos desse tipo de câncer são resultado de infecções persistentes pelos vĂ­rus HPV-16 e HPV-18, e 15% são causados pelos tipos HPV-31, 33, 45, 52 e 58.

Nas Américas, a cada ano, cerca de 83 mil mulheres são diagnosticadas com câncer cérvico uterino e mais de 35 mil mulheres morrem pela doença - mais da metade, antes dos 60 anos.

A pesquisadora do INCA explica que a evolução desses casos depende muito do quão rĂĄpido eles são diagnosticados. Quanto mais precoce for a detecção, maior a chance de cura e menor o sofrimento do paciente. Além de salvar a vida, a rapidez no diagnóstico também reduz a possibilidade de sequelas, como cirurgias mutiladoras nos órgãos afetados.

"No câncer do colo de Ăștero e de ânus, que tĂȘm lesões precursoras, lesões malignas, a gente pode tratar essas lesões precocemente e o câncer nem se desenvolver. Para o câncer de colo do Ăștero tem o rastreamento, que permite detectar essas lesões ou o câncer em estĂĄgio inicial", explica.

"Se for identificado em estĂĄgio avançado, vão ser necessĂĄrias cirurgias mutiladoras, pode ocorrer uma sobrevida com pouca qualidade de vida, e um maior risco de mortalidade. Por isso, a gente tem que pensar que a vacinação tem esse benefĂ­cio enorme, não só para as mulheres".

Tratamento

Uma pessoa infectada pelo vĂ­rus HPV deve tratar os sintomas para evitar que eles possam evoluir para um quadro de câncer. A presença do vĂ­rus pode demorar anos para se manifestar e costuma ser detectada pela presença de verrugas ou lesões na pele das mucosas.

Não hĂĄ tratamento especĂ­fico para eliminar o vĂ­rus, e o manejo da doença se concentra em combater as verrugas, dependendo da extensão, quantidade e localização das lesões. Podem ser usados laser, eletrocauterização, ĂĄcido tricloroacético (ATA) e medicamentos que melhoram o sistema de defesa do organismo. Em geral, o tratamento é feito com ginecologistas, urologistas ou proctologistas, mas outros especialistas também podem ser necessĂĄrios.

Edição: Denise Griesinger

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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