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Especialista alerta sobre transmissão da sĂ­filis de gestante para bebĂȘ

O destaque deste ano Ă© a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado da sĂ­filis nas gestantes durante o perĂ­odo prĂ©-natal, nas mulheres e homens.

Por Flávia Albuquerque - Repórter da Agência Brasil - São Paulo em 21/10/2023 às 20:45:37
© Rovena Rosa/Agência Brasil

© Rovena Rosa/Agência Brasil

O terceiro sĂĄbado do mĂȘs de outubro foi instituĂ­do como o Dia Nacional de Combate à SĂ­filis e à SĂ­filis CongĂȘnita, data voltada para conscientizar a população sobre os riscos da doença, os métodos de prevenção, além de incentivar a participação de profissionais da saĂșde e administradores de sistemas de saĂșde em iniciativas que contribuam com essa educação. O destaque deste ano é a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado da sĂ­filis nas gestantes durante o perĂ­odo pré-natal, nas mulheres e homens.

Causada pela bactéria Treponema pallidum, a doença pode apresentar vĂĄrias manifestações clĂ­nicas e diferentes estĂĄgios - sĂ­filis primĂĄria, secundĂĄria, latente e terciĂĄria. Nos estĂĄgios primĂĄrio e secundĂĄrio da infecção, a possibilidade de transmissão é maior. A sĂ­filis pode ser transmitida por relação sexual sem preservativo com uma pessoa infectada ou para a criança durante a gestação ou parto.

Na sĂ­filis primĂĄria, o sinal é uma ferida, geralmente Ășnica, no local de entrada da bactéria que pode ser no pĂȘnis, vulva, vagina, colo uterino, ânus, boca, ou outros locais da pele, que aparece entre 10 e 90 dias após o contĂĄgio. Essa lesão é rica em bactérias e é chamada de cancro duro. Normalmente não dói, não coça, não arde e não tem pus, podendo estar acompanhada de Ă­nguas (caroços) na virilha. A ferida desaparece sozinha, independentemente de tratamento.

Na sĂ­filis secundĂĄria, os sintomas aparecem entre 6 semanas e 6 meses do aparecimento e cicatrização da ferida inicial. Podem surgir manchas no corpo, que geralmente não coçam, incluindo palmas das mãos e plantas dos pés. Essas lesões são ricas em bactérias. Pode ainda ocorrer febre, mal-estar, dor de cabeça, Ă­nguas pelo corpo. As manchas desaparecem em algumas semanas, independentemente de tratamento, trazendo a falsa impressão de cura.

Na fase assintomĂĄtica, os sinais e sintomas não aparecem e a doença estĂĄ dividida entre latente recente (até 1 ano de infecção) e latente tardia (mais de 1 ano de infecção). A duração dessa fase é variĂĄvel, podendo ser interrompida pelo surgimento de sinais e sintomas da forma secundĂĄria ou terciĂĄria.

JĂĄ a sĂ­filis terciĂĄria pode surgir entre 1 e 40 anos após o inĂ­cio da infecção, apresentando principalmente lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares e neurológicas, podendo levar à morte.

Segundo dados do Ministério da SaĂșde, de janeiro a junho de 2022 o Brasil registrou 122 mil novos casos de sĂ­filis. Nesse perĂ­odo, foram identificados 79,5 mil casos de sĂ­filis adquirida, 31 mil casos em gestantes e 12 mil ocorrĂȘncias de sĂ­filis congĂȘnita, que é transmitida da mãe para o bebĂȘ.

De 2016 a 2021, o aumento dos casos foi considerĂĄvel. Enquanto em 2016 foram registrados 91.506 casos, com taxa de detecção de 44,6 para cada 1.000 habitantes. Em 2021 foram 167.523, com taxa de detecção de 78,5 para cada 1.000. O nĂșmero de gestantes infectadas pulou de 38.305 para 74,095, com a taxa de detecção passando de 13,4 para 27,1. A sĂ­filis congĂȘnita passou de 21.547 casos para 27.019, com a taxa de detecção aumentando de 7,5 para 9,9 para cada 1.000 habitantes.

SĂ­filis congĂȘnita

Segundo o vice-presidente da Comissão de Doenças Infectocontagiosas da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e ObstetrĂ­cia (Febrasgo), Regis Kreitchmann, é preciso atenção, porque os sintomas são parecidos com os de outras patologias e assim passar despercebidos pelas mulheres.

Nas gestantes, a doença passa para o bebĂȘ porque a Treponema pallidum atravessa a placenta podendo resultar em perdas ou lesões fetais irreversĂ­veis. Os impactos no feto podem ser a possibilidade de aborto ou a morte. Sem tratamento, o bebĂȘ pode nascer com sĂ­filis congĂȘnita, exigindo internação para exames e administração de antibióticos como parte do tratamento da doença.

"A sĂ­filis não tratada pode causar abortos de repetição, além da ocorrĂȘncia de perdas fetais e neonatais repetidas. Essas perdas possuem enormes impactos sociais, econômicos e psicológicos para a mulher e a sociedade. A sĂ­filis congĂȘnita pode ser eliminada se a mulher for diagnosticada e tratada corretamente", alerta.

Mariana (nome fictĂ­cio para preservar sua imagem) tem 23 anos de idade e descobriu que tinha sĂ­filis na maternidade ao dar à luz a uma menina. Poucos dias depois do nascimento de sua filha, os exames detectaram que ela e a bebĂȘ estavam com a doença. O tratamento foi iniciado e, segundo Mariana, depois de 12 dias no hospital, o tratamento não é fĂĄcil e é doloroso, principalmente para a criança.

"Ela recebe o medicamento injetĂĄvel por 10 dias. É doloroso para mim ver o sofrimento da minha filha. É incômodo, ela chora. Não é fĂĄcil, não foi fĂĄcil para mim. Passei muitas noites em claro por causa disso, fora o peso das noites em claro", lamentou.

O conselho de Mariana para as futuras mães é que se cuidem e façam o pré-natal regularmente. "Tem que fazer todos os exames, mas muitas não acreditam e não pensam assim. Acham que fazer mais um exame de sangue é um gasto, então não fazem porque não estão sentindo nada diferente. Eu estava bem, não sentia nada, minha bebĂȘ nasceu saudĂĄvel e quando fizemos o exame tivemos a surpresa do resultado positivo", disse.

Segundo a especialista em saĂșde da mulher, enfermagem e obstetrĂ­cia e professora de SaĂșde da Mulher da Faculdade Anhanguera Karina Lopes Capi, o aumento dos casos em 2022 pode estar ligado à diminuição da notificação devido ao perĂ­odo da pandemia da covid-19, "mas não é possĂ­vel falar em epidemia porque os dados abrangem apenas os 6 primeiros meses do ano".

Karina reforça que para prevenir a doença basta usar o preservativo durante as relações sexuais. Para detectar a infecção jĂĄ existem os testes rĂĄpidos disponĂ­veis nas unidades bĂĄsicas de SaĂșde (UBS) e caso o teste seja positivo, o tratamento é feito com a penicilina, a depender do estĂĄgio. Durante a gestação, o tratamento da mãe e do bebĂȘ envolve o uso do medicamento por via intramuscular, com o nĂșmero de injeções dependendo do tempo desde o contĂĄgio, variando de uma a trĂȘs doses. Além disso, o parceiro também deve ser tratado com o mesmo regime de tratamento ou, se preferir, pode optar por um antibiótico oral. É fundamental seguir o tratamento prescrito e realizar exames de sangue para confirmar a eficĂĄcia da terapia.

"É importante ressaltar que nem sempre a criança apresenta os sintomas quando nasce. Mas a partir do momento que a gente tem uma mãe que foi diagnosticada com sĂ­filis, essa criança precisa ser muito bem acompanhada, porque os sintomas e as manifestações clĂ­nicas em geral podem surgir aĂ­ nos 3 meses. E precisamos acompanhar de perto até pelo menos os 2 anos de vida", explicou.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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