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Câmara aprova urgĂȘncia para votar projeto do Novo Ensino MĂ©dio

MatĂ©ria pode ser analisada no plenĂĄrio na próxima semana

Por Lucas Pordeus León - Repórter da Agência Brasil - Brasília em 14/12/2023 às 13:23:54
© Paulo Pinto/Agência Brasil

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A Câmara dos Deputados aprovou nessa quarta-feira (13), por 351 votos contra 102, a urgĂȘncia do projeto de lei que altera o Novo Ensino Médio instituído durante o governo de Michel Temer, em 2017. Com isso, o projeto pode ser votado na próxima semana no PlenĂĄrio da Casa.

A aprovação dessa urgĂȘncia promoveu uma reviravolta na tramitação dessa matéria porque o governo havia retirado o carĂĄter de urgĂȘncia do projeto na última segunda-feira (11), argumentando que a medida precisava de mais tempos para ser debatida. A expectativa era de que o tema ficasse para 2024.

Enviada pelo governo federal em outubro deste ano, a matéria estĂĄ sendo relatada pelo ex-ministro da Educação de Temer, o deputado Mendonça Filho (União-PE). A decisão do governo de alterar as regras do ensino médio ocorreu após pressão de entidades, estudantes, professores e especialistas para revogação das mudanças no currículo aprovadas durante o governo Temer.

Na votação da urgĂȘncia na noite dessa quarta-feira, a liderança do governo encaminhou pelo voto favorĂĄvel, jĂĄ os blocos do PT/PCdoB/PV e do PSOL/Rede encaminharam contra a urgĂȘncia. Ainda assim, cinco parlamentares do PT votaram a favor de acelerar a tramitação do PL relatado pelo deputado Mendonça. Os demais partidos e blocos partidĂĄrios votaram a favor da urgĂȘncia.

O deputado Idilvan Alencar (PDT-CE) criticou o texto alterado na Câmara, argumentando que ele desfigurou o projeto enviado pelo Executivo para modificar o Novo Ensino Médio.

"O relatório que querem votar daqui a pouco, às pressas, reduz a carga horĂĄria da Base Nacional Comum e traz o notório saber como muito forte. Notório saber é desrespeito ao professor. Não é qualquer um que pode ir para a sala de aula, não. É preciso ter uma formação. Ele também retira a obrigatoriedade do espanhol — uma pauta que eu não aceito —, assim como da sociologia, educação física, filosofia, arte", lamentou.

O projeto original enviado pelo Executivo retomava a carga horĂĄria de 2,4 mil horas de formação geral bĂĄsica das 3 mil horas totais. O Novo Ensino Médio fixou essa formação bĂĄsica em 1,8 mil horas. O substitutivo do Mendonça fixou em 2,1 mil horas, com 300 horas de aulas que relacionem os conteúdos da Base Nacional Comum Curricular com a formação técnica profissional.

Além disso, o projeto do Executivo retirou a previsão de permitir a contratação de profissionais sem licenciatura, desde que sejam reconhecidos com notório saber sobre a disciplina. O substitutivo do Mendonça reintroduziu a possibilidade de contratar profissionais com notório saber na ĂĄrea de formação profissional e técnica.

O relator Mendonça Filho, durante a votação, agradeceu apoio do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), e do colégio de líderes da Casa, por terem aceitado votar a urgĂȘncia do PL.

"Precisamos de uma decisão para sinalizar para os estudantes, para as redes estaduais, para os secretĂĄrios estaduais de educação, que respondem por 84% da oferta de vagas no ensino médio público brasileiro, para essa gente que quer ter acesso ao mercado de trabalho, quer melhorar a renda. E é por isso que eu peço a todos aqui que tĂȘm compromisso com o futuro da educação que possamos abandonar o velho ensino médio", destacou.

Repercussão

O substituto do Mendonça vem sofrendo críticas dos membros da Campanha Nacional pelo Direito à Educação que consideram que o texto retoma as normas do projeto do governo Temer. A organização reúne sindicatos, movimentos sociais, estudantis e comunitĂĄrios.

O professor Daniel Cara, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), lamentou a aprovação da urgĂȘncia e defendeu que o texto aumenta as desigualdades entre os ensinos público e privado no Brasil.

"Mendonça praticamente reeditou a Medida Provisória do Temer fazendo uma falsa determinação de 2,1 mil horas. Na prĂĄtica, são 2,1 mil horas de formação geral bĂĄsica, mas 300 horas podem ser feitas dentro dos itinerĂĄrios formativos. Ou seja, voltam as 1,8 mil horas de formação bĂĄsica", destacou.

Sobre a reintrodução do notório saber como suficiente para contratação de professores, Daniel diz que a medida coloca pessoas que não foram preparadas para serem professores.

"O objetivo é diminuir a pressão, que hoje as redes públicas enfrentam, para contratação de professores via concurso. Esse é o interesse econômico por trĂĄs da reforma. É descaracterizar a profissão de docentes para que qualquer um seja professor", destacou.

Por outro lado, o Todos Pela Educação avaliou que o substituto do Mendonça traz avanços em relação ao texto do governo federal, apesar de ponderar que precisa de melhorias. A Organização Não Governamental (ONG) informa que é financiada apenas por recursos privados.

A ONG concordou em aumentar as horas para a educação profissional e técnica. "É um movimento correto no sentido de não fragilizar a busca por maior integração da Educação Profissional e Tecnológica (EPT) com o Ensino Médio regular, um dos pilares da essĂȘncia da reforma", destacou.

A organização também é favorĂĄvel à possibilidade de contratar profissionais sem formação própria de professor, argumentando que a proposta original do Executivo "dificultaria sobremaneira a ampliação da educação profissional e tecnológica".

A reportagem procurou a liderança do governo na Câmara e o Ministério da Educação para comentarem o assunto, mas não obteve retorno até o fechamento desta reportagem.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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