Um kit de diagnóstico que detecta o coronavĂrus em até cinco minutos pode se tornar realidade até o final deste ano. O dispositivo, desenvolvido a partir de anticorpos extraĂdos de animais, tem custo avaliado em R$ 5 para fabricação e distribuição para o Sistema Ănico de SaĂșde (SUS) pelo Instituto Vital Brazil (IVB).
Essa é a expectativa da professora Célia Ronconi Machado, do Instituto de QuĂmica da Universidade Federal Fluminense (UFF), que coordena o grupo de trabalho local dentro de uma rede nacional que inclui cientistas de outras nove instituições brasileiras. Participam também do grupo a PontifĂcia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC Rio), as universidades federais do Rio de Janeiro (UFRJ), de GoiĂĄs (UFG), do Tocantins (UFT), de Minas Gerais (UFMG), a Universidade de BrasĂlia (UnB), a Universidade de São Paulo (USP-São Carlos), o Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene) e o Instituto Butantã.
Célia Ronconi foi convidada a participar do projeto em abril do ano passado, pela professora GlĂȘndara Aparecida de Souza Martins, da Universidade Federal do Tocantins, que jĂĄ conhecia o trabalho do Laboratório de QuĂmica Supramolecular e Nanotecnologia da UFF, coordenado por Célia, bem como sua experiĂȘncia em novos materiais e nanomĂĄquinas. "A fim de suprir a demanda de desenvolver bons métodos de detecção rĂĄpida do vĂrus SARS-CoV-2, utilizamos nosso conhecimento na ĂĄrea de nanotecnologia para colaborar com o estudo", disse a professora da UFF.
Célia informou hoje (6) que, no momento, estão sendo feitos experimentos com amostras de saliva e muco nasal de pacientes para validar o método, de modo a possibilitar sua aprovação pela AgĂȘncia Nacional de Vigilância SanitĂĄria (Anvisa). O procedimento tem aprovação do ComitĂȘ de Ética da instituição.
Ela não pôde prever quanto tempo serĂĄ necessĂĄrio para a validação do método, porque os pesquisadores só podem ficar dentro do Laboratório de Biologia da UFF durante quatro horas, no mĂĄximo, por dia. No local, a preferĂȘncia é dada para a realização de PCR de graça para pacientes de Niterói, municĂpio da região metropolitana do Rio de Janeiro, onde a UFF estĂĄ localizada.
Ao mesmo tempo, os cientistas estão encerrando os trabalhos com vĂrus a partir da proteĂna S, feitos inicialmente para a publicação de artigo cientĂfico. A proteĂna S é o mecanismo usado pelo novo coronavĂrus para adentrar a estrutura das células e apropriar-se de estruturas que permitem que ele se replique e se espalhe pelo organismo.
A proteĂna S, também chamada de proteĂna Spike, é alvo dos anticorpos produzidos pelo sistema imunológico depois da contaminação. Essa proteĂna foi doada pelo Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
"A gente fez primeiro com a proteĂna isolada do vĂrus e funcionou direitinho. Fizemos também com vĂrus inativado com radiação gama; também funcionou. Tem vĂĄrias amostras que deram certo, mas ainda falta fazer estudo de fatores interferentes, colocar outros vĂrus para ver se ele vai ser seletivo", informou Célia.
Os pesquisadores usaram trĂȘs tipos de anticorpos de animais (camundongos, coelhos e cavalos) na criação do kit diagnóstico. "Os trĂȘs deram certo. Os trĂȘs funcionaram". Como os anticorpos são muito caros, Célia explicou que foi dada preferĂȘncia aos anticorpos de cavalos, que foram cedidos gratuitamente pelo Instituto Vital Brazil. Em paralelo, o grupo de pesquisadores de BrasĂlia acoplou anticorpos de coelhos e conseguiu detectar o vĂrus inativado isolado e também em amostras de saliva de 176 pacientes contaminados ou não com o novo coronavĂrus.
A professora Célia observou que os animais não desenvolvem a doença, mas produzem um soro rico em anticorpos que são capazes de reconhecer e se conectar a diferentes partes da proteĂna S. No seu método de trabalho, os anticorpos de animais são purificados e acoplados em nanopartĂculas de ouro de tamanho entre um e 100 nanômetros, visando gerar os biossensores, que são os dispositivos responsĂĄveis por analisar e quantificar um componente biológico.
Célia Ronconi disse que a tecnologia empregada vai reduzir os custos de produção dos kits. A ideia é que o exame seja feito através da saliva, que é mais rĂĄpido. Caso seja aprovado, cada teste custarĂĄ em torno de R$ 5 para ser fabricado. A intenção é distribuir pelo SUS através do Instituto Vital Brazil. A pesquisadora da UFF afirmou que, com a variante delta do coronavĂrus, a testagem em massa se torna mais necessĂĄria, mesmo que a população esteja vacinada, porque a rapidez do resultado e o acesso pelo SUS facilitam o isolamento de pessoas infectadas e, por consequĂȘncia, contém o avanço da pandemia.
Fonte: AgĂȘncia Brasil