PREFEITURA SANTANA

Diretor da Precisa diz não ter participado de negociação da Covaxin

Danilo Trento prestou depoimento na CPI da Pandemia nesta quinta

Por Redação em 23/09/2021 às 21:40:47

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia do Senado ouve, nesta quinta-feira (23), o empresĂĄrio Danilo Trento. Trento é diretor institucional da Precisa Medicamentos e amigo de Francisco Maximiano, dono da empresa. Ele negou participação nas tratativas do acordo de compra da vacina indiana Covaxin com o Ministério da SaĂșde intermediado pela empresa. O contrato para 20 milhões de doses do imunizante ao custo de R$1,6 bilhão foi cancelado em agosto pela pasta depois de denĂșncias trazidas pela CPI.

Danilo Trento é apontado como sócio oculto da Precisa e suspeito de ter empresas associadas a Francisco Maximiano – relação que é alvo da CPI. Aos senadores, o empresĂĄrio negou participação nos processos com o ministério por ser "diretor institucional" da Precisa.

Apesar de dizer que não atuou em negociação de imunizantes, Trento admitiu que esteve duas vezes na Índia, mas não informou as datas, nem o motivo da viagem. Segundo o vice-presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), a suspeita é que Trento e Maximiano viajaram juntos à Índia para negociações em torno da venda de testes da covid-19 e da vacina Covaxin ao Brasil.

CPIPANDEMIA - Comissão Parlamentar de Inquérito da Pandemia
CPIPANDEMIA - Comissão Parlamentar de Inquérito da Pandemia - Edilson Rodrigues/AgĂȘncia Senado

Lavagem de dinheiro

O depoente também não esclareceu por que a Precisa Medicamentos pagou mais de R$ 5 milhões para a empresa Barão Turismo. Outra pergunta sem resposta foi a respeito do motivo de Rafael Barão, proprietĂĄrio da agĂȘncia de turismo, ter ido à viagem.

Segundo o vice-presidente da CPI, a agĂȘncia de turismo foi usada para lavar dinheiro nas negociações de compra da Covaxin. Durante sua fala, Randolfe exibiu um grĂĄfico com transferĂȘncias feitas pela Primarcial, empresa da qual Danilo Trento é sócio, e da Precisa Medicamentos, para a Barão. "As transferĂȘncias seguem uma rotina e começam a aumentar em dezembro, dias depois da primeira reunião entre a Precisa e o Ministério da SaĂșde", afirmou o senador.

O senador acrescentou que os repasses em fevereiro foram superiores à soma de todos os do ano de 2020. Fevereiro foi o mĂȘs em que foi assinado o contrato da Precisa Medicamentos para aquisição da vacina indiana Covaxin. "A Barão Turismo é a lavadora de dinheiro", disse Randolfe.

Em relação ao preço da vacina intermediada pela Precisa, à época o mais caro por dose, o diretor negou ter pedido ao presidente Jair Bolsonaro que telefonasse ao primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, para acelerar a negociação. Segundo ele, o preço de US$ 15 estipulado pela fabricante Bharat estava dentro da faixa cobrada de outros clientes, entre US$ 15 e US$ 20. Os senadores contestam o valor, sob o argumento de terem informações de que a vacina poderia ter sido negociada a US$ 10 a dose.

Joias

O empresĂĄrio também foi questionado pelo vice-presidente da CPI sobre para quem foram dadas joias ou relógios da marca Rolex adquiridos por uma das empresas de Trento em um shopping de Curitiba. "Nos chamou muita atenção o caminho do dinheiro. Uma aquisição feita por uma dessas empresas para compra de joias, ou de Rolex, em duas joalherias, uma em São Paulo e outra em Curitiba. Nesta joalheira de Curitiba, nós esperamos, até o final da inquirição de hoje, ter a resposta sobre por que foi comprada uma joia através de uma empresa de investimento e participações em uma empresa farmacĂȘutica, e para quem foi comprada", cobrou Randolfe.

Primarcial

Danilo Trento chamou atenção dos senadores por não saber explicar quais são as atividades de sua empresa, a Primarcial Holding e Participações. "É uma empresa de participação", disse. "Participação, eu tenho que olhar o contrato social dela, as outras atividades, mas é uma empresa de participação", completou o diretor.

"Ele tem uma empresa de participação, mas não quer me dizer [o] porquĂȘ", afirmou o presidente do colegiado, senador Omar Aziz (PSD-AM. "Ele é dono de uma empresa, mas é empregado de outra. VocĂȘ é patrão numa e empregado na outra", concluiu Aziz.

Segundo relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), ao qual a CPI teve acesso, o órgão registrou como atĂ­picas transações milionĂĄrias entre a 6M Participações, controlada por Francisco Maximiano, dono da Precisa, e a Primarcial.

JĂĄ sobre suas funções na Precisa Medicamentos, o diretor disse que faz "atividades institucionais junto aos órgãos institucionais". "Representar a empresa a seus clientes, apresentĂĄ-la de forma institucional", explicou. Sem citar nomes, Danilo Trento disse que conhece "vĂĄrios senadores, deputados, autoridades, mas não em relação a negócios".

Fraude em licitação

O relator lembrou ao depoente que mensagens comprovam a participação dele, de Maximiano, do empresĂĄrio José Ricardo Santana, do lobista Marconny Faria e do ex-diretor do Departamento de LogĂ­stica do Ministério da SaĂșde Roberto Dias em esquema que desclassificou empresas vencedoras de licitação para a venda de testes de covid-19, com o objetivo de favorecer a Precisa.

Trento não respondeu se teve participação no esquema para vencer a concorrĂȘncia. Declarou apenas que Marconny nunca foi contratado pela Precisa Medicamentos. Considerado lobista da Precisa, Marconny disse à CPI que prestou consultoria de "viabilidade técnica e polĂ­tica" à empresa.

O depoente informou ter encontrado Roberto Dias apenas em uma agenda oficial no ministério, que ele mesmo marcou por e-mail. A informação foi contestada pelo relator. Segundo Renan Calheiros, em mensagem obtida pela CPI, Marconny disse a Trento que estava em uma confraternização com Dias e Santana, para a qual o empresĂĄrio também foi convidado.

Trento confirmou que a FIB Bank foi a empresa fiadora do contrato da Covaxin junto ao Ministério da SaĂșde, mas não quis falar nada sobre o advogado Marcos Tolentino, apontado como o verdadeiro dono dessa empresa.

Requerimento

No inĂ­cio do depoimento de hoje, os senadores aprovaram simbolicamente a convocação de Bruna Moratto, advogada dos médicos que enviaram o dossiĂȘ da Prevent Senior denunciando a empresa por irregularidades no uso de medicamentos sem eficĂĄcia comprovada contra a covid-19. Segundo Omar Aziz, ela serĂĄ ouvida na próxima terça-feira (28).

Outro requerimento aprovado hoje foi a convocação do empresĂĄrio Luciano Hang, dono da Havan. O depoimento foi agendado para a próxima quarta-feira (29). "Ele [Luciano Hang], como um patriota que participou ativamente nas discussões de 'tratamento precoce', com certeza ficarĂĄ muito feliz em vir aqui à CPI contribuir com a investigação", disse o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM). Ainda segundo o parlamentar, Hang deverĂĄ ser ouvido na próxima quarta-feira.

Em nota, o empresĂĄrio disse que recebeu a notĂ­cia da convocação "com tranquilidade". "SerĂĄ um prazer estar presente e falar de todo o trabalho que nós fizemos, visando ajudar no enfrentamento da pandemia, buscando auxiliar na saĂșde do povo brasileiro e também na economia", destacou .

Hang acrescentou que, desde o princĂ­pio, falou que era preciso cuidar da saĂșde, sem descuidar da economia. "Estou totalmente à disposição para esclarecer qualquer questionamento".

Os senadores também aprovaram hoje a quebra de sigilos bancĂĄrio, fiscal, telefônico e telemĂĄtico de Danilo Trento e de seu irmão Gustavo Trento.

Edição: Bruna Saniele


Fonte: AgĂȘncia Brasil

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