Especialistas defenderam nesta terça-feira (26) uma atuação mais efetiva do governo do presidente Jair Bolsonaro na defesa do meio ambiente e a definição de metas mais claras para a ConferĂȘncia das Nações Unidas sobre Mudança ClimĂĄtica (COP-26), que serĂĄ realizada em Glasgow, na Escócia. Durante a comissão geral realizada hoje na Câmara dos Deputados para debater o tema, especialistas apontaram que o paĂs tem retroagido no combate ao desmatamento e que o paĂs precisa ter metas mais ambiciosas para conter os gases do efeito estufa.
A COP26 ocorrerĂĄ 1Âș a 12 de novembro de 2021 e tem entre seus objetivos discutir a implementação do Acordo de Paris, que é considerado um dos mais importantes compromissos multilaterais para a redução de emissão de gases de efeito estufa.
Durante o debate, o representante do Instituto de Democracia e Sustentabilidade, André Lima, destacou que uma das ĂĄreas que o paĂs poderia contribuir com a agenda climĂĄtica mundial seria acabar com o desmatamento ilegal. O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, disse, após reunião preparatória para a conferĂȘncia, no inĂcio do mĂȘs, que o Brasil apresentarĂĄ a meta de zerar o desmatamento ilegal antes de 2030.
Lima disse que, no perĂodo entre 2005 e 2013, o Brasil reduziu o desmatamento na Amazônia, em cerca de 85%, e em outras partes do paĂs. Mas que a atual polĂtica ambiental tem agido em sentido contrĂĄrio, inclusive com o corte de orçamento de órgãos de controle e fiscalização como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais RenovĂĄveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
"O resultado disso são trĂȘs anos seguidos de aumento nas taxas de desmatamento em todos os biomas. Na Amazônia, retomamos patamares de desmatamento de dez anos atrĂĄs", criticou.
Para o integrante do Fórum Brasileiro de Mudanças ClimĂĄticas MĂĄrcio Astrini, o paĂs poderia recuperar seu protagonismo no debate ambiental antecipando a realização das metas pactuadas no Acordo de Paris. "Sob o governo Bolsonaro, o desmatamento na Amazônia explodiu, aumentou mais de 40% em relação ao mesmo perĂodo anterior do seu mandato", disse.
No Ășltimo trimestre, o Brasil registrou queda de 14% no desmatamento ilegal em relação ao ano passado. O resultado foi alcançado com o trabalho integrado dos ministérios da Justiça, da Defesa e do Meio Ambiente, informou o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, após a reunião preparatória para a COP26.
Na avaliação do pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuĂĄria (Embrapa) Eufran do Amaral, o Brasil deveria protagonizar uma ação global para reverter o aquecimento global e apresentar metas mais ambiciosas, como a de zerar o desmatamento, além de assinar tratados para a preservação de floresta e de redução de gases, como o metano.
"O Brasil tem que ter metas claras, ambiciosas, para que a gente possa restaurar ecossistemas, ter conservação da biodiversidade, garantir uma estratégia de monitoramento do desmatamento e da degradação, ter um sistema de alerta precoce para incĂȘndios florestais, de forma que façamos parte de uma ação global para interromper essas emissões de gases do efeito estufa", defendeu.
Representante dos povos indĂgenas e integrante do Observatório dos Povos Isolados, Beto Marubo disse que os povos originĂĄrios estão sendo esquecidos no debate. Marubo lembrou que as terras indĂgenas ao lado das unidades de conservação são os locais com maior proteção contra ações como o desmatamento.
"Os nossos territórios são importantes, inclusive, para o enfrentamento de qualquer mudança climĂĄtica hoje. Isso jĂĄ estĂĄ comprovado, mas nós não queremos ficar nos bastidores , queremos ser protagonistas", disse.
Marubo reclamou da ausĂȘncia da Ășnica representante indĂgena no parlamento, a deputada Joenia Wapichana (Rede-RR) da comitiva de parlamentares que vai acompanhar a CP-26.
"Infelizmente os povos indĂgenas vĂȘm sendo excluĂdos de todos esses processos. Fui informado de que a deputada Joenia Wapichana não foi aprovada para participar da COP26 e esse é um exemplo claro de como os povos indĂgenas vĂȘm sendo atropelados, sobretudo nos Ășltimos anos", protestou.
O presidente do Fórum Nacional de Sucroenergético, MĂĄrio Campos, disse reconhecer que o Brasil precisa avançar no tema da proteção ambiental, com o planejamento de como vai atingir as metas pactuadas no Acordo de Paris. Mas disse acreditar que o paĂs também tem ações positivas para mostrar ao restante do mundo, a exemplo da produção de biodiesel.
"Acredito que o Brasil tenha na COP26 excelentes projetos e proposições para apresentar segmentos econômicos pujantes no Brasil que tem na sustentabilidade o seu grande objetivo", disse.
O representante da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) Muni Lourenço Jr. disse que a entidade procurou integrantes do governo para apresentar um documento com posicionamentos e expectativas do setor para as negociações do paĂs na COP26 – entre elas o combate ao desmatamento ilegal e a regulamentação do mercado de carbono.
"Por entendermos que o Brasil é o seu grande ativo florestal, ele pode ser uma forma de captação de recursos importâncias e de reconhecimento, sobretudo, na grande importância do nosso paĂs na prestação de serviços ambientais para toda a humanidade, inclusive serviços ambientais prestados pelos produtores rurais brasileiros", disse.
O governo federal lançou na segunda-feira (25) o Programa Nacional de Crescimento Verde. A iniciativa tem como objetivo aliar a redução das emissões de carbono, conservação de florestas e uso racional de recursos naturais com geração de emprego verde e crescimento econômico. O programa contarĂĄ com recursos nacionais e internacionais, pĂșblicos ou privados, reembolsĂĄveis e não reembolsĂĄveis, fundos de impacto e investimentos de risco na aceleração de projetos e iniciativas sustentĂĄveis.
Fonte: AgĂȘncia Brasil