Quarenta anos depois do primeiro caso confirmado de sĂndrome da imunodeficiĂȘncia adquirida (aids), a Organização das Nações Unidas (ONU) definiu metas para acabar com a epidemia da doença até 2030. O programa Caminhos da Reportagem que vai ao ar neste domingo (23), às 20h, conta histórias de quem vive com HIV e mostra como estĂĄ a situação da doença no Brasil, quais as possibilidades de prevenção e tratamento e as dificuldades para acessĂĄ-las, além da expectativa por uma vacina contra o vĂrus.
O infectologista Ricardo Diaz acredita que temos os instrumentos para ver o desaparecimento de uma epidemia global e avançamos rapidamente para isso. Ariadne Ribeiro, assessora de apoio comunitĂĄrio do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), criado em 1996 para criar soluções e ajudar nações no combate à aids, afirma que a instituição sonha em eliminar a doença, porque, se todas as pessoas vivendo com HIV tiverem seus tratamentos e quebrarem a cadeia de transmissão, não teremos novas infecções nem pessoas morrendo em decorrĂȘncia da doença. Segundo o secretĂĄrio de Vigilância à SaĂșde do Ministério da SaĂșde, Arnaldo Medeiros, o Brasil estĂĄ caminhando para alcançar essa meta, classificada como ousada, mas possĂvel.
Cazuza foi um dos primeiros artistas a falar publicamente sobre a aids. A mãe do cantor, Lucinha AraĂșjo, acredita que ele deixou, além de belas canções, a coragem de enfrentar a doença. "Ele falou 'Mamãe, quem canta Brasil mostra a sua cara não pode esconder a sua em um momento como esse'. E ele serviu também de exemplo para milhões de soropositivos mostrarem as suas caras", explicou.
O jornalista Paulo Giacomini vive com HIV e estĂĄ chegando aos 60 anos de idade. Ele afirma ser uma idade que nunca imaginou alcançar. "Para mim, é muito difĂcil chegar nessa idade e é muito difĂcil chegar com aids nessa idade. Eu tinha sonhos que eu tive que enterrar. Por muitos anos, eu fiquei esperando a morte". Paulo faz acompanhamento de saĂșde no Centro de ReferĂȘncia e Treinamento DST/AIDS de São Paulo.
A médica infectologista Rosa de Alencar é diretora adjunta do centro e explica que, quando a quantidade de vĂrus no organismo de uma pessoa estĂĄ abaixo do nĂvel que o exame consegue detectar, a carga viral se torna indetectĂĄvel. "Quando acontece isso, se a pessoa estĂĄ tomando remédio de forma regular, ela não transmite mais o vĂrus. Hoje, o tratamento é também uma forma de prevenção". Ariadne Ribeiro lembra que a aids acontece em decorrĂȘncia do não tratamento do HIV. "Quando a carga viral de um indivĂduo estĂĄ indetectĂĄvel, o vĂrus que existe dentro dessa pessoa não tem força para transmitir. Então, a gente quebra a cadeia de transmissão e, quebrando a cadeia de transmissão, a gente elimina a aids".
No Brasil, 694 mil pessoas estão em tratamento e, ao fazerem tratamento, 95% delas são consideradas indetectĂĄveis e não transmitem o HIV por via sexual. É o caso da escritora Thais Renovatto. Vivendo com HIV, ela conta que, depois que começou o tratamento e ficou na condição de indetectĂĄvel, percebeu que havia uma doença biológica e uma doença social, por conta do preconceito e da desinformação. A escritora diz que algumas pessoas reclamam quando ela fala do HIV de maneira leve. "Não estou banalizando a doença, mas, na minha ótica, hoje, dĂĄ para se viver muito bem e hĂĄ muitas pessoas que vivem muito bem e que se escondem muito mais pelo estigma do que pela doença em si".
O tratamento e as formas de prevenção evoluĂram muito nos Ășltimos 40 anos. Especialistas citam a Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP) e a Profilaxia Pós-Exposição (PEP) como ferramentas de impacto no controle da transmissão do HIV. E, enquanto cientistas tentam achar a cura definitiva para a aids e a ONU aposta que, com os tratamentos disponĂveis, a doença pode deixar de ser um problema de saĂșde pĂșblica em 2030, estudos clĂnicos para o desenvolvimento de uma vacina são realizados em todo o mundo.
Um deles é o Projeto Mosaico, realizado no Hospital EmĂlio Ribas. Thiago Storari, estudante de direito, não tem HIV e é voluntĂĄrio da pesquisa. Ele conta que uma das motivações para fazer parte do estudo foi o fato de ter perdido um tio em decorrĂȘncia da aids. "No dia que foi confirmado que eu ia fazer parte do estudo, eu mandei no grupo da famĂlia e minha tia falou: "Que coisa gostosa saber que meu irmão morreu por conta desse vĂrus e, hoje, o meu sobrinho tem a chance de ajudar a ciĂȘncia a desenvolver um passo importante na prevenção contra o HIV".
Reportagem: Gracielly Bittencourt
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Fonte: AgĂȘncia Brasil